Coimbra tem obra e está em prossecução para um verdadeiro estaleiro, não pelo costumeiro afã pré-eleitoral com que as forças políticas pretendem demonstrar às populações a sua dedicação e a sua mais-valia no desempenho, mas porque as grandes obras são transversais, não se esgotando no tempo do mandato único, pelas sua dimensão, pelas vicissitudes legais e pela falta de versatilidade do poder central enquanto não for assumida a regionalização na íntegra.
Coimbra está assim a transformar-se, vide o novo sistema de mobilidade eléctrico e ferroviário citadino e da região, a regularização, o apetrechamento e o aproveitamento das margens do Mondego, a redução de assimetrias e reforço da coesão social, a manutenção, revitalização e criação de espaços verdes e ambiente sustentável, a dignidade e fruição cultural do complexo do Convento de S. Francisco, a qualificação do desporto para todos e a criação de estruturas para a competição saudável polivalente, enfim uma acção infinda mas mobilizadora e atractiva.
As realizações descritas, mesmo em tempo de pandemia que atemoriza as pessoas, fragiliza as instituições e ameaça paralisar a economia, dão um sentido à necessidade de continuidade de execução desta transformação e à criatividade para a renovação de Coimbra, sem perda da sua identidade mas com a agenda da década 20-30 direccionada para o Desenvolvimento Sustentável, e retiram qualquer sentido de mudança de forças políticas na gestão autárquica, através da aventura pela aventura, de promessas de encantar só no imaginário, e de cantigas de escárnio e mal dizer.
Os cidadãos têm memória e distinguem e reconhecem quem faz, quem diz que faz, quem nada faria mas prometia, quem queria fazer mas não consegue, quem quer ser el-rei de Coimbra (como se em Portugal ainda houvesse beija-mão real), ou como aqueles que pensam “não importa que falem mal de mim, desde que falem”.
E assim, a transparência e a consciência política e cívica das pessoas na selecção dos seus executivos autárquicos, está a levar à divisão e ao desespero um partido político com créditos consistentes no exercício do poder (nem sempre coerentes, o PSD até tinha o socialismo como meta no seu programa pós-25 de Abril), dividido por algumas figuras (militantes e sub-militantes), com ânsia de protagonismo pessoal e promoção da auto-imagem até à exaustão.
Neste quadro, ficam de lado a verdadeira social-democracia e os sociais-democratas de Coimbra que fizeram história política em democracia, que são respeitados pelo estatuto académico, profissional e laboral em competência e capacitação, que entendem o poder como servir e a oposição como alternância democrática, e que, também meritoriamente, acreditam na sociedade inclusiva e na igualdade de oportunidades.
E, pasme-se, parece iminente a submissão de um partido político da democracia representativa a uma figura unipessoal numa candidatura autárquica, que assume a liderança pública e a subjugação do PSD, esvaziado dos fundadores de um movimento de cidadania (que apresentaram um verdadeiro programa político, com o qual me identifico na maioria dos conteúdos), que pretende o poder a todo o custo, e age estilo panfletário, vendo apenas desgraças na governação autárquica, como se se tratasse de um conhecido canal televisivo de mortos e feridos.
Os cidadãos de Coimbra (simpatizantes de partidos políticos, independentes, líderes causídicos e outros cidadãos, todos de pleno direito) estão atentos, e saberão distinguir quem promove um projecto pessoal dando-lhe voz de supremacia disfarçada, e quem idealiza, fomenta e não obstaculiza projetos comunitários, legítimos e diversificados na sua origem, mas comuns ao interesse colectivo, ao bem público e à participação da sociedade civil organizada, por Coimbra e não contra Coimbra.
(*) Médico e deputado do PS na Assembleia Municipal de Coimbra