O Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa foi o convidado de honra na Abertura Solene das Aulas da Universidade de Coimbra, que decorreu na manhã desta quarta-feira (14), num ano atípico que no qual se esperam vários desafios.
No início da cerimónia, o Reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão, num discurso onde congratulou “todas as pessoas que compõem o universo do Grupo UC”, afirmou existirem motivos “para algum optimismo” em relação à proposta do Orçamento de Estado para 2021, congratulando-se com o reforço da dotação na ciência e ensino superior.
“Veremos como ocorrerá a discussão na especialidade, mas temos motivos para algum optimismo, assim prevaleça um bom e esclarecido entendimento entre os partidos de oposição”, disse Amílcar Falcão.
Apesar de considerar que o Orçamento do Estado para 2021 (OE2021) “aparenta ser o possível em tempos de pandemia”, o Reitor salientou a preocupação do documento “no sentido de utilização dos fundos europeus que serão fundamentais para a construção de uma Europa e de um país renovados, sustentados na acção climática, no conhecimento e na transição digital”.
Amílcar Falcão realçou o reforço da dotação orçamental na área da ciência e do ensino superior, que “espelha a aposta necessária no apoio social aos estudantes, no suporte à acção científica das instituições e no controlo ao défice decorrente dos efeitos da pandemia”.
Durante o seu discurso, o reitor da UC frisou ainda o apoio “inequívoco” da instituição às “recentes propostas para a descentralização de instâncias judiciárias”, desafiando o Governo para que tenha “esta ousadia também em várias outras áreas da vida social”.
Amílcar Falcão destacou também a necessidade de preparar, neste contexto de pandemia, “a Universidade do futuro”, apresentando o seu modelo, que passa por, entre outras coisas, o estímulo à criação de empresas no seio da academia, a aposta na aprendizagem ao longo da vida, o rejuvenescimento do corpo docente, não-docente e de investigadores, a promoção de uma política de ciência aberta ou a aposta na neutralidade carbónica.
Daniel Azenha, presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC), também marcou presença na sessão, onde falou sobre as barreiras no acesso ao ensino superior.
“Em Portugal, não somos livres de escolher a instituição que mais nos agrada ou o curso que mais gostamos. Escolhemos consoante o custo da habitação e o nosso rendimento familiar”, afirmou o líder da mais antiga associação de estudantes do país.
Para Daniel Azenha, “é maior o esforço financeiro e emocional” para os estudantes nas universidades portuguesas “do que o esforço intelectual e do trabalho”. “Na sociedade portuguesa, e em qualquer sociedade evoluída, essa sobreposição não deveria ter lugar”, vincou.
Dirigindo-se ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, presente na cerimónia, Daniel Azenha pediu que o “ensino superior não seja um espaço inatingível, que apenas se encontra ao alcance de quem tem um agregado familiar com capacidade financeira”.
Já o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na sua intervenção defendeu que para aproveitar “a oportunidade única e irrepetível” dos novos fundos europeus e fazer face à crise é preciso qualificar “mais e melhor”, com mais meios para a educação e ensino superior.
O chefe de Estado considerou que é necessário “dar mais meios para que a excelência se aprofunde e amplie, para que a formação se concretize e se abra e atinja novos patamares de qualidade e quantidade”.
No entanto, Marcelo Rebelo de Sousa entende que é preciso “ir mais longe”, não se esquecendo o ensino superior, não minimizando “o seu papel” e não distinguindo “entre eleitos e não eleitos”.
Para o Presidente da República, não se pode querer “manter quadros institucionais e jurídicos que já foram, porventura, pioneiros e que são hoje peças de museu – importantes para reverenciar, mas inoperacionais para viver”.
Durante o discurso, vincou, ainda, a necessidade de os fundos europeus para dar resposta à crise económica e social provocada pela pandemia de covid-19 não serem usados apenas para remendar “o tecido rasgado pelas crises [passadas]”, mas para se mudar “para melhor e duradouramente”, no que sempre se foi retocando no dia-a-dia ou que foi adiado “por sistema”.
Na Abertura Solene das Aulas da UC marcou, também, presença o Professor Carlos Reis, a quem coube a tradicional “Oração de Sapiência”, na qual realizou um “elogio à narrativa”.