Em Fevereiro de 1969, estando aberto o caminho para o projectado novo Hospital-Escolar de Coimbra, e escolhido o terreno para a sua implantação (adaptando o antigo Sanatório dos Covões), Bissaya-Barreto transcreve para as páginas do Diário de Coimbra uma frase quase profética, de um médico seu amigo:
«Assim, deverão decorrer uns anos – talvez largos – antes que o Hospital-Escolar de Coimbra esteja concluído, seja equipado e apetrechado, para poder entrar em funcionamento. Até lá, Coimbra e a Zona Centro terão de governar-se com os actuais Hospitais da Universidade, deficientes como se sabe, e já superlotados».
Por outro lado, e segundo o seu pensamento, o Hospital-Cidade deveria servir o distrito como um Hospital Regional, que promovesse a ligação com os vários hospitais sub-regionais. Claras eram, também, as suas ideias sobre a natureza da estrutura que gostaria de ver erguida:
«O Hospital de que o distrito precisa e para que o precisa, não pode ser, não deve ser construído sobre ruínas ou sobre muralhas de contornos medievais, inextensíveis e sem elasticidade, mas sim deve ter uma construção de emergência, modesta, mas confortável, sem exterior, mas com ricos interiores funcionais.
O que é fundamental é que se adapte às condições locais, e as viva; o que é indispensável é que sirva o melhor possível a população na sua distribuição geográfica e nas suas necessidades».
Ao Hospital-Cidade, idealizado para a massa trabalhadora, Bissaya-Bareto reconhecia uma «…tríplice função, preventiva, curativa, recuperadora, no propósito de se resolver, duma maneira perfeita, económica e completa, o problema assistencial da Zona Centro, especialmente do distrito de Coimbra (…) Centro de trabalho clínico, Centro de valorização, Centro de educação e de investigação, não dependente dos serviços da Faculdade».
Nas várias intervenções que foi fazendo sobre o assunto, em especial na década de 60, o seu pensamento não é feito do passado ou do presente, mas sim de olhar posto no futuro:
«O nosso Hospital – Hospital-Cidade – terá de ser, pois, a expressão das necessidades e desejos de Coimbra e seu Distrito, como tantas vezes tem pedido, e na sua construção e concepção hão-de ser tomadas em conta as doenças e acidentes da região que serve Coimbra e seu Distrito, as taxas de natalidade e mortalidade, as condições de habitação e transporte, o nível de vida e até as crenças e hábitos religiosos (…) organização complexa e complicada na sua função, mas que nós desejamos seja simples na sua formação».
A cidade, paralelamente, foi despertando para a necessidade do seu Hospital-Escolar e Civil. Nos inícios de 1969 o distrito organizou-se em peso, e uma imensa força começou a movimentar-se: a 7 de Fevereiro de 1969 uma representação assinada pelas mais altas entidades oficiais, datada de 30 de Janeiro de 1969, era entregue ao Ministro da Saúde. Bissaya-Barreto apressasse a publicar a novidade no Diário de Coimbra de 2 de Março de 1969:
«Coimbra apresenta-se calma e confiante depois da entrega da exposição ao Senhor Ministro da Saúde e Assistência, exposição em que todas as autoridades do nosso distrito solicitam a adaptação do Sanatório da Colónia Portuguesa do Brasil a Hospital Central Civil de Coimbra. Nunca houve documento assinado como este; nele intervieram os Senhores: Governador Civil, Presidente da Câmara, Presidente da Junta Distrital, Presidentes de todas as Câmaras, Provedores de todas as Misericórdias, Presidentes de todas as Ordens (Médicos, Advogados, Engenheiros) (…) Não houve recusa de ninguém, não houve uma hesitação sequer».
(*) Historiador e investigador