Como vimos nos artigos anteriores, Bissaya-Barreto defendia a existência de um Hospital-Cidade e de um Hospital-Escolar em Coimbra, organizados como duas unidades independentes, trabalhando de modo complementar no combate à doença, auxiliando e colaborando, mutuamente, mesmo nas questões do ensino:
«Um, o Hospital Escolar, Universitário, para a Medicina Científica e de Investigação. O outro, o Hospital-Cidade, para a Medicina Clínica», escrevia nos seus testemunhos aos vindouros.
Em clima de crispação com a sua Faculdade, pretendia a localização do novo Hospital-Cidade «…junto da Cidade e não dentro da Cidade, hospital implantado num terreno, suficientemente vasto e desafogado, que permita, se necessárias, ulteriores ampliações, terreno com sol, ao abrigo dos ventos dominantes, afastado de nevoeiros, afastado de zonas industriais, afastado de vias de grande tráfego e não incluso no meio de grandes aglomerados urbanos…Como se vê, tudo diferente, tudo contrário ao que a douta Faculdade escolheu para o seu Hospital».
Neste sentido estará na linha da frente contra a adaptação dos antigos pavilhões do Manicómio Sena, nos Olivais, para serviços da Faculdade de Medicina, nomeadamente a Clínica Neuro-Psiquiátrica, enquanto aponta os Covões para localização do novo Hospital-Cidade.
Entretanto, Lisboa e Porto, já tinham o seu Hospital-Escolar, moderno e eficiente, mas Coimbra permanecia distante desta realidade.
À semelhança do que ia sucedendo com o Hospital-Cidade, também os acontecimentos se precipitam em março de 1969 com o Hospital-Escolar. A 16 deste mês Bissaya-Barreto proclamará nas páginas do Diário de Coimbra: «Dia Grande! Dia de festa, dia que não esquece». Em sessão plenária da Câmara Municipal de Coimbra, em consonância com o pedido do Ministério das Obras Públicas e da Comissão Administrativa das Obras da Cidade Universitária, fora proposta a desafectação da zona habitacional da Quinta das Sete Fontes para início imediato das obras de construção do novo Hospital Escolar.
Por entre um clima de festa e regozijo, com agradecimentos ao executivo camarário e à Faculdade de Medicina, Bissaya-Barreto desabafa no espaço público:
«Hospital Escolar: há muitos anos que eu luto só, inteiramente só, pela criação dum novo Hospital-Escolar; Hospital novo e noutro sítio; Hospital em local próprio; próprio pelas suas dimensões, posição, exposição e relações com o meio, sobretudo implantado numa área, onde caibam todas as formações para-hospitalares, cada vez mais numerosas e mais exigidas, absolutamente indispensáveis numa formação assistencial de responsabilidade, como esta, e onde possam caber, e devam caber, doentes de todas as categorias e classes».
(*) Historiador e investigador