O ministro das Infraestruturas e Habitação disse, hoje, que a consignação da empreitada de abertura do canal de MetroBus (autocarros eléctricos) na Baixa de Coimbra é um “passo estruturante” para a mobilidade da cidade e da região.
Discursando na Praça 8 de Maio, em Coimbra, na cerimónia de consignação da obra que se insere no Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM), Pedro Nuno Santos salientou que a intervenção parecia “um bloqueio difícil de arrancar”.
Horas antes, o governante tinha presidido em Serpins, concelho da Lousã, na cerimónia de consignação da empreitada de adaptação do Ramal da Lousã (desactivado há 10 anos) à circulação de veículos MetroBus, entre aquela localidade e o Alto de São João (Coimbra), numa extensão de 30 quilómetros, que também se insere no SMM.
“Foram 30 anos [de projectos], 10 anos sem carris, e hoje é muito difícil os cidadãos desta região acreditarem [neste projecto], depois de várias cerimónias, que agora é a valer”, disse Pedro Nuno Santos, numa intervenção em que salientou “o respeito e a justiça por um povo que esperou e foi ficando para trás”.
O ministro das Infraestruturas e Habitação disse que os governantes não podem “vir a mais uma cerimónia sem reconhecer que o Estado ficou a dever às populações desta região demasiados anos e que há um pedido de desculpas que é devido”.
O governante considera mesmo que é necessário fazer uma reflexão sobre os atrasos a que se vota grande maioria do território, ao contrário do que acontece com algumas partes, “poucas”, nomeadamente Lisboa e Porto.
“Temos de o assumir e enfrentar, porque é uma realidade que as nossas populações sentem diariamente. É muito difícil em Serpins pedir às pessoas para acreditarem no poder político, quando há 10 anos que não têm uma alternativa de mobilidade” – realçou.
A empreitada de abertura do canal de MetroBus na Baixa de Coimbra vai ligar a frente do rio Mondego à Rua da Sofia, permitindo a execução da Linha do Hospital do SMM.
Trata-se de um investimento de 3,5 milhões de euros, com um prazo de execução de 23 meses, que integra a reconstrução de vários imóveis e a construção do edifício-ponte, da autoria do arquitecto Gonçalo Byrne.
A Linha do Hospital do MetrosBus fará a ligação da zona da Baixa de Coimbra e do Ramal da Lousã à zona de Celas, onde se localizam os Hospitais da Universidade de Coimbra, IPO, Hospital Pediátrico, e as Faculdades de Medicina e Farmácia.
Autocarros no Ramal da Lousã
Em Serpins, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, elogiou a introdução de autocarros eléctricos no antigo ramal ferroviário da Lousã, mas não excluiu o regresso a um transporte “mais pesado” no futuro.
Na cerimónia de consignação da empreitada de adaptação do Ramal da Lousã à circulação de veículos do tipo MetroBus, o ministro das Infraestruturas e da Habitação salientou que se trata de uma solução de transporte público “que provavelmente muitas outras regiões do país desejarão”.
“No entanto, se algum dia nós tivermos um volume de passageiros que justifique um meio de transporte mais pesado, nós todos teremos de trabalhar nesse sentido”, admitiu.
Para Pedro Nuno Santos, a introdução daqueles autocarros com baterias eléctricas recarregáveis “é uma solução de futuro que será testada” no troço suburbano do Ramal da Lousã, com cerca de 30 quilómetros, desactivado há uma década.
“Vamos ter uma solução segura, confortável, dinâmica e rápida. Mas nunca deixaremos, se em algum momento o volume de passageiros justificar, de fazer um investimento mais pesado e termos um meio de transporte mais pesado. Não é impossível de rapidamente passarmos para ele”, sublinhou.
O ministro das Infraestruturas referiu que, “neste momento, esta é uma solução adaptada às necessidades e mais flexível, que vai permitir chegar a outras localizações”, designadamente na área urbana de Coimbra, o que “não seria possível com o comboio”. “É um meio de transporte de futuro. Não é uma solução de remendo, antes pelo contrário”, enfatizou.
O Ramal da Lousã foi encerrado e desmantelado, nas primeiras semanas de 2010, para acolher um sistema de metro ligeiro sobre carris, uma obra suspensa mais tarde, após o Estado ter investido cerca de 150 milhões de euros, segundo diversas estimativas, em empreitadas, estudos, projectos e funcionamento da empresa Metro Mondego, desde 1996.
Essa obra, que não foi candidatada aos apoios europeus, gerou contestação popular durante mais de 15 anos, através de diferentes movimentos que convergiam na defesa da electrificação e modernização da ferrovia centenária, inaugurada em 1906.
“Tivesse o povo desta região desistido, não tinha dado a energia necessária para que os autarcas tivessem continuado de forma muito empenhada a exigir”, afirmou Pedro Nuno Santos.
Ao lamentar que “as pessoas deixaram de acreditar”, valorizou a importância de conceitos como “democracia, justiça e respeito”.
“Se nós quisermos perceber por que é que, ao longo dos anos, tantos cidadãos não se têm sentido representados pelos seus representantes e se vão afastando de uma participação mais convicta na democracia, nós podemos olhar para aqui”, disse, recordando que a promessa de um sistema de metro para o Ramal da Lousã tem quase 30 anos.
Segundo o ministro, “é em situações como esta que se pode encontrar as respostas para um afastamento tão grande de muitos portugueses da vida política e da participação democrática”.
Neste contexto, Pedro Nuno Santos reiterou “um pedido de desculpas do Estado Português para com uma região e para com um povo que durante 10 anos não teve alternativa” de transporte público, além de carreiras de autocarros de substituição do comboio.
Intervieram ainda o presidente da Câmara da Lousã, Luís Antunes, que é presidente da Assembleia Geral da Metro Mondego, e o presidente da Infraestruturas de Portugal, António Laranjo, numa cerimónia a que assistiu também o secretário de Estado das Infraestruturas, Jorge Delgado.