A autarca Helena Teodósio (ao centro), ladeada por Rodrigo Cunha e Manuela Grazina (à esquerda) e Carlos Fiolhais e Manuel Castelo Branco (à direita)
A Câmara Municipal de Cantanhede apresentou, hoje, as Bolsas de Inovação Científica Professor Doutor António Lima de Faria, que visam estimular e apoiar a investigação científica inovadora.
Destinada a jovens entre os 15 e os 35 anos de idade, a iniciativa pretende atribuir 10 bolsas no valor de 1 000 euros cada uma, no prazo de cinco anos (duas por ano, em Maio e Setembro), e serão admitidos resumos ou planos de trabalhos de qualquer área ou ramo científico da autoria de jovens estudantes do ensino secundário ou superior.
As duas prestações pecuniárias anuais destinam-se à comparticipação dos encargos inerentes à participação num congresso nacional ou internacional ou à realização de um estágio de curta duração num laboratório, em Portugal ou no estrangeiro, o que implica, num e noutro caso, a demonstração do mérito por parte dos candidatos, através do resumo da apresentação ou do plano de trabalhos.
Helena Teodósio, presidente da Câmara de Cantanhede e também membro do júri, esclareceu que as candidaturas ao apoio financeiro serão abertas a estudantes e jovens de todo o país, salientando que este foi um desafio lançado em Maio de 2018 pelo geneticista cantanhedense António Lima de Faria, que se disponibilizou a financiar cinco bolsas de 1 000 euros cada, sendo que as restantes cinco são patrocinadas pela própria autarquia de Cantanhede.
O académico e investigador, de 99 anos e radicado na Suécia há mais de 60, tem uma “carreira reconhecida a nível nacional e internacional, vencedor de distintos prémios em todo o mundo”, como referiu a autarca de Cantanhede.
Do júri que irá seleccionar as melhores ideias, “as mais inovadoras e empreendedoras”, fazem parte (além de Helena Teodósio), a investigadora e docente da Universidade de Coimbra, Manuela Grazina (presidente do júri); o cientista Carlos Fiolhais; e os investigadores Rodrigo Cunha e Manuel Castelo Branco.
A autarca referiu que era “um privilégio para o Município de Cantanhede ter-se associado a este projecto”, ideia de um cantanhedense que tem um “grande legado científico e humano, como se verifica pela disponibilidade em providenciar as bolsas”.
“Cantanhede tem sofrido, nos últimos anos, uma transformação na sua base económica, através da aposta na inovação e no empreendedorismo na biotecnologia, como é o caso do Biocant Park, e que é verdadeiramente estruturante, não só para a economia da região como do país”.
Manuela Grazina, presidente do júri e cientista, destacou que “é preciso divulgar ciência e incutir nos jovens o espírito criativo”, felicitando a autarquia de Cantanhede por ter recebido este projecto “sobrepondo a ciência à política”.
“Temos de fazer esforços para que mentes criativas e com ideias ‘fora da caixa’ possam fazer grande diferença no futuro, distinguindo os jovens que tenham projectos inovadores e transformadores para a área científica. Isto é uma pequena semente mas que poderá ser um grande impulso para fazer uma enorme diferença”, realçou a também cientista.
Carlos Fiolhais realçou que “esta é a altura de ser inovador, de aguçar a inteligência”, felicitando a Câmara Municipal e Lima de Faria pela iniciativa, que demonstra “a juventude” do quase centenário cientista.
Também Rodrigo Cunha e Manuel Castelo Branco frisaram a falta constante de fundos para investigação em Portugal, sendo que o ex-presidente do ISCAC foi ainda mais longe e criticou o Estado pelo desinvestimento nesta área de tão grande relevância, contrapondo com o “papel exemplar da autarquia de Cantanhede nesta matéria, que dá uma lição ao país”. Rodrigo Cunha salientou, inclusive que hoje [nesta situação pandémica], estamos a “pagar o preço de não se ter investido em inovação na área da microbiologia nos últimos 20 anos”.
Manuela Grazina concluiu apelando à contribuição dos grandes beneméritos do país – cidadãos ou empresas – para estas bolsas, enriquecendo-as e tornando-as mais atractivas.
Recorde-se que Lima de Faria, que recebeu em 1996 a medalha de ouro de Cantanhede, dá, também, nome à Escola Secundária da cidade e a um prémio instituído pela Câmara Municipal, que premeia, todos os anos, o aluno do concelho com melhor média nacional.