Quando um cidadão está doente procura um médico. Espera resolver o seu problema de saúde com médicos qualificados (que o são), e por vezes também com o apoio de enfermeiros, técnicos e assistentes operacionais. O doente precisa de profissionais de saúde e não procura administradores hospitalares, juristas, economistas ou “gestores” que pululam nos hospitais que, não tendo a competência de técnicos de saúde, deveriam ser complementares e não protagonistas na saúde. Mas são os “chefes”.
Os cidadãos já perceberam que os “chefes” estão a destruir um Hospital Central (Covões) em Coimbra, e que alguém quer (quem será?) transformá-lo num lar, um asilo e outros serviços de segunda linha e refugo. Por isso, mais de 34 000 pessoas aderiram à página do facebook “Pela Saúde em Coimbra e na Região Centro”, que defende o “SNS funcional, inclusivo e de proximidade”, e onde o tema central actual é o desmantelamento do Hospital Geral Central dos Covões (não se destrua em 9 anos, o que demorou 46 anos a conquistar e construir).
Apesar dos excelentes profissionais de saúde que Coimbra tem (HUC + Hospital dos Covões), todos os cidadãos reconhecem que a saúde em Coimbra não está bem (excepto os bajuladores e dependentes de algo, em servilismo e compadrio). Mais se agrava esse sentimento de frustração no exercício do direito à saúde, quando são doentes frequentadores de consultas (demoradas, adiadas, em filas de espera na rua), quando têm de realizar exames complementares de diagnóstico (muito tarde ou no dia de são nunca à tarde), ou quando esperam cirurgia (sentados, de preferência).
E quando são profissionais de saúde, têm de lidar com as carências de material e equipamento (para sua defesa e dos doentes), com a burocracia informática (não dirigida ao utilizador), com a sobrecarga de trabalho (espaços e tempos mal divididos “superiormente”, burn-out por horas sucessivas de trabalho). E os “chefes” sabem o que é trabalhar 12 ou 24 horas consecutivas, observar (observar não é ver…) 60 ou 120 doentes nesse período, comer à pressa ou não comer, cochilar ou não dormir? Eu sei, por experiência própria como médico e por missão.
Coimbra, a Região de Coimbra e a Região Centro precisam de dois Hospitais Centrais, como já tiveram no passado (Hospitais da Universidade de Coimbra – HUC e Hospital Geral do Centro Hospitalar de Coimbra – HG). A pandemia da COVID-19 e o excesso da difícil acessibilidade e do atendimento no actual Pólo Hospital da Universidade de Coimbra vieram evidenciar ainda mais esta necessidade (agora já nem vai haver o silo para estacionamento prometido há “milénios” pois não dá lucro, e os lugares a dedo existentes vão ser pagos…).
Não se trata de colocar um Hospital contra outro Hospital (HUC versus HG), como guerra de alecrim e manjerona, fazer birra de crianças ou dividir para reinar. Trata-se de manter e reforçar as competências de ambos (sem destruição de Serviços e manipulação de jogos de interesses), em que quer o Hospital Geral Central dos Covões, quer os Hospitais da Universidade de Coimbra continuem a ser um serviço público qualificado e uma referência de prestígio nacional e internacional.
A cidade, a região circundante, o centro do País, as suas estruturas representativas (incluindo a Câmara e Assembleia Municipal de Coimbra) e os cidadãos, estão contra a desclassificação do Hospital dos Covões (incluindo o Serviço de Urgência), porque dele precisam e têm direito.
O Centro de Apoio Perinatal / Maternidade Central de Coimbra tem todas as condições para ser instalado no perímetro do Hospital Central dos Covões, conforme já o demonstrámos técnica e cientificamente, coincidindo ou divergindo com outros pareceres (assim sejamos ouvidos).
Quem não compreender a vontade de uma cidade e de uma Região, e não assegure a qualidade em saúde que compete aos “chefes” promover, de acordo com a excelência dos recursos humanos que são os profissionais de saúde, com as Necessidades em Saúde da população e com a promoção do Desenvolvimento Sustentável, estará a impor-se com prepotência, não cumprirá bem a sua função de decisor(es) e deverá deixá-la para quem assuma independência, capacitação e coerência.
Tudo tem “custos”, mesmo que preferencialmente com fundos europeus. Mas Coimbra e a Região Centro também são Portugal! Por isso, como médico, como doente, como cidadão, como socialista, participarei na Marcha “Pelos Covões, Por Coimbra, pela Região Centro” e apelo a todos os cidadãos que defendam o seu direito à saúde e honrem António Arnaut.
A Cidade / Coimbra não é um chão de palavras pisadas, e os decisores não são sacrossantos, imunes à sociedade e coração, impunes ao sofrimento e à razão.
(*) Médico e deputado (PS) Municipal de Coimbra