O incêndio florestal ocorrido em Julho na Serra da Lousã, que resultou na morte de um bombeiro, teve origem numa descarga eléctrica associada a uma trovoada, afirmou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
No resumo do relatório técnico sobre as “condições meteorológicas relativas ao incêndio na Lousã em 11 de Julho de 2020”, a que a agência Lusa teve hoje acesso, o IPMA refere que foi identificado “um registo de uma descarga eléctrica atmosférica às 18h20”, a 100 metros do local do incêndio, “sendo que a margem de erro associada a esta descarga eléctrica (na ordem de 200 metros) permite inferir que esta descarga pode ter despoletado o incêndio da Lousã”.
O incêndio da Serra da Lousã resultou na morte de José Augusto, 55 anos, chefe de equipa dos bombeiros voluntários de Miranda do Corvo e ferimentos noutros três bombeiros. Chegou a ser combatido, ao longo de cinco horas, por cerca de 250 operacionais dos distritos de Coimbra e Leiria.
O IPMA frisa que “foi considerado que o incêndio teria tido início devido a uma descarga eléctrica associada a trovoada e que o acidente com os bombeiros teria estado relacionado com uma mudança no rumo do vento, tendo também sido reportada a existência de muito fumo junto ao solo”, possibilidades que foram analisadas no relatório de 53 páginas, através da avaliação das condições meteorológicas.
Segundo o relatório, o incêndio da Lousã “ocorreu num dia para o qual foram emitidos avisos meteorológicos de tempo quente e de trovoada, tendo havido forte instabilidade atmosférica e a consequente geração de um sistema convectivo de forte actividade”, que, entre outros fenómenos extremos, pode originar descargas eléctricas e ventos fortes.
“O risco meteorológico de incêndio era muito elevado no concelho da Lousã, o 4.º nível mais alto de um total de 5 níveis”, adianta.
De acordo com o IPMA, foi ainda possível identificar que o sistema convectivo onde teve origem a referida descarga eléctrica “produziu, ainda durante o seu movimento para Norte e na fase de dissipação, subsidência [descida de ar] generalizada na região do incêndio, consistente com a diminuição da altura da camada limite, podendo esta ter sido relevante para a dificuldade na dispersão de fumos e gases junto ao solo”.
“Não é possível também excluir que, durante o período de tempo entre o início do incêndio e o instante em que ocorreu o acidente com os bombeiros, possam ter ocorrido variações significativas do rumo do vento, consistentes com a existência de correntes descendentes associadas às células convectivas que constituíam o sistema convectivo, com influência quer no sentido de evolução do incêndio quer dos fumos por ele produzidos”, argumenta o IPMA.
Também um relatório disponível na página da Internet do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), relativo ao mesmo incêndio em Selada das Poças, na Serra da Lousã, aponta causas naturais para a origem das chamas, concretamente um raio.
No mesmo documento é dito que o alerta para o incêndio de 11 de Julho foi dado às 18h26, a primeira intervenção de combate aconteceu sete minutos depois, às 18h33, e as chamas foram consideradas extintas cinco horas mais tarde, às 23h35.
O ICNF diz, ainda, que a área ardida do incêndio atingiu 2,75 hectares (27,5 mil metros quadrados, o equivalente a quatro campos relvados de futebol) de terrenos privados, sendo meio hectare de pinheiro bravo com 35 anos e os restantes 2,25 de matos e incultos.