A fusão do CHC com os HUC, criando o CHUC, foi de causa puramente política. Não houve qualquer estudo, ou evidência de necessidade, ou sequer de melhoria, de natureza técnica ou económica que a justificassem.
É agora cada vez mais evidente que essa fusão foi um fracasso, tecnicamente e economicamente, com o progressivo desmantelamento e encerramento dum dos Hospitais Gerais Centrais de Coimbra (Hospital dos Covões) e a consequente e progressiva pandemonização do outro (HUC), tolhendo-lhe o progresso, com crescente limitação de acesso e ineficácia da reposta, com cada vez maiores listas de espera, por acumulação nele de doentes e de patologias que até antes eram divididos pelos dois. Uma macrocefalia hospitalar que eliminou folgas para crescimento e desenvolvimento, ao mesmo tempo que a diversidade e a possibilidade de debate e segunda opinião a nível hospitalar. Com repercussões negativas na Saúde em Coimbra, na Região Centro e no País.
A solução para um erro praticado é corrigi-lo. Neste caso, desfazer a dita fusão, e devolver a autonomia ao Hospital dos Covões. Tal com é, aliás, solicitado na Petição pública à Assembleia da República “DEVOLVER A AUTONOMIA AO HOSPITAL DOS COVÕES – PELO DIREITO AO ACESSO A CUIDADOS DE SAÚDE DE QUALIDADE”, em avaliação na Comissão Parlamentar de Saúde para posterior votação em plenário do Parlamento.
É um problema político – do ponto de vista técnico é evidente o erro -, que tem de ter solução política. Pelos políticos. Antes de mais pelo ministério da Saúde e o Governo. As forças políticas locais já manifestaram clara e publicamente as suas opiniões neste assunto. Mas iremos saber, e ver de modo também claro, qual a posição dos vários partidos com assento parlamentar, de acordo com o seu voto na votação da referida Petição na Assembleia da República que vai ter lugar.
(*) Médico cirurgião e professor universitário
Texto da Petição
“Devolver a autonomia ao Hospital dos Covões (Centro Hospitalar de Coimbra).
Pelo direito ao acesso a cuidados de saúde de qualidade.
Desde a criação do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) pela junção do Centro Hospitalar de Coimbra (onde se engloba o Hospital dos Covões) com o Hospital da Universidade de Coimbra (HUC), que se tem assistido não a uma fusão mas a uma destruição de um hospital central.
Sem qualquer razão assistencial, social, urbanística, científica, ou outra razão aceitável, o Hospital dos Covões tem sido progressivamente desprovido de recursos humanos e recursos materiais, despido de serviços médicos, reduzindo significativamente a capacidade de prestar cuidados de saúde com a qualidade que habituou a população. A centralização de cuidados e serviços médicos não foi solução, apenas trouxe dificuldade no acesso (listas de espera enormes), o “amontoar” de doentes num só hospital sem aparente capacidade de resposta, a redução da qualidade e um risco acrescido para os doentes e profissionais.
Se o Hospital dos Covões já tivesse sido encerrado, o colapso da saúde em Coimbra teria sido muito maior do que foi nesta era COVID. Sim, foi o Hospital dos Covões o epicentro do combate à pandemia em Coimbra. É preciso aprender com os erros de gestão em saúde do passado, para que o presente não se repita no futuro.
É imperativo reverter a ‘pseudo’ fusão do Hospital dos Covões com o HUC, restabelecendo a autonomia e a capacidade que estava há anos instalada naquele hospital central e que resolvia todos os problemas de saúde da população que a ele recorria. Os trabalhadores do Hospital dos Covões estão tristes, desmotivados e revoltados pelo reiterado assédio moral a uma instituição com 47 anos de existência, que é acarinhada por profissionais e doentes. Insistir na continuação desta fusão é continuar a insistir na negligencia de gestão em saúde que se assiste em Coimbra há anos, e num crime contra o direito constitucional do acesso a cuidados de saúde.
É um dever do poder político assegurar que todos os portugueses tenham acesso a cuidados de saúde de qualidade e atempados num serviço público. Um Hospital dos Covões a funcionar em pleno é essencial para se cumprir esse dever, continuar a destruí-lo é um crime que lesa a pátria.
Por tudo isto e muito mais: Dizemos SIM ao Hospital dos Covões!”.