Perfil publicado a 31 de Outubro de 2019, na edição n.º 996
Nome: TIAGO Estêvão MARTINS
Naturalidade: Coimbra
Idade: 30 anos
Profissão: Deputado do PS eleito pelo círculo de Coimbra
Passatempos: Praticar desporto e ouvir música
Signo: Virgem
É um dos mais jovens deputados eleitos nas últimas legislativas embora, em 2011, quando desceu as escadas monumentais da Universidade de Coimbra (UC) para se inscrever no Partido Socialista (PS), “precisamente no dia seguinte à demissão de José Sócrates”, não imaginasse o desafio que o esperava oito anos mais tarde. Esse dia, marcado por diversas manifestações no âmbito do dia do estudante, um pouco por todo o país, ficou, por isso, “visualmente gravado na memória”, relembra Tiago Martins.
Das lembranças que tem mais presentes da infância elege o percurso escolar que começa na Escola Primária João de Deus, passa pelo colégio Rainha Santa Isabel e, já no secundário, também pela Escola Infanta D. Maria. Um percurso que considera rico e variado caracterizado pelos diversos modelos de ensino, todos eles enriquecedores e dos quais guarda boas memórias. Escolheu o agrupamento de Humanidades quando ingressou no décimo ano porque, desde cedo, quis seguir Jornalismo. “Tinha uma visão muito vincada sobre aquilo que queria fazer. Sempre tive uma paixão e um fascínio muito grandes pelo Jornalismo, interpretava que era a forma, provavelmente uma visão romântica, que era a forma em que mais me revia de intervir na sociedade. E, de facto, acaba por ser isso que marca todo o meu ensino secundário e depois o percurso que tive na Faculdade de Letras”, afirma.
A educação que teve possibilitou-lhe experimentar as mais variadas vivências. O desporto foi uma delas. “Pratiquei durante cerca de sete anos natação e, na altura em que tive de decidir se seguia para pré-competição optei por não o fazer e comecei a dedicar-me ao futsal. Mais tarde, já no ensino superior, dediquei-me às artes marciais. Acredito que o desporto me trouxe, primeiramente, um sentido de superação e sacrifício e também uma capacidade de foco que acho que é fundamental. O facto de nos termos de superar sempre foi algo em que me revi e hoje um dos meus passatempos continua a ser fazer desporto.
Fruto da minha actividade profissional não consigo dedicar-me a um desporto a 100 por cento como antes mas faço ginásio”.
Em 2007 ingressa na licenciatura em Jornalismo na Faculdade de Letras da UC e, foi logo no segundo ano de curso, que iniciou o seu envolvimento com o associativismo. Convidado pelos colegas da faculdade, candidatou-se à presidência do núcleo de estudantes dessa instituição exercendo o cargo durante um ano (2008-2009), numa época que considerou “particularmente conturbada. Na altura em que me candidato ao núcleo de estudantes atravessávamos um período de transição e de adaptação ao regime jurídico das instituições de ensino superior, ou seja, houve uma reforma grande na UC fruto da adaptação dos estatutos da universidade àquela que era a nova legislação do regime jurídico e por isso essa necessidade de intervir e pensar como organizar a faculdade. O facto de poder estar na Assembleia Estatutária da Faculdade, no conselho pedagógico e na primeira eleição do Director da Faculdade obviamente que foi muito entusiasmante. Era o descobrir e o pensar um novo modelo de organização também com a necessidade de adaptação ao processo de Bolonha”, conclui.
Entre 2009 e 2011, desempenha também as funções de Membro do Conselho Pedagógico, da Assembleia de Faculdade e Membro do Conselho Consultivo da Faculdade de Letras da UC. No âmbito também das funções desempenhadas em organizações estudantis nacionais, foi ainda Membro da Assembleia de Revisão Estatutária (2010) e da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (2012) e, depois, Vice-Presidente da Direcção-Geral deste organismo (2013). “Foi um chamamento a que não me neguei, envolvi-me com gosto.
Foi uma experiência muito rica, porque era uma lista com muitas sensibilidades políticas, tinha pessoas que se identificavam com a direita ou com a esquerda mas soubemos encontrar sempre o ponto comum dos interesses dos estudantes. Nas nossas diferenças encontrámos esses pontos comuns e, portanto, houve muita aprendizagem com anos muito enriquecedores. Foi uma altura pesada e dura porque sentíamos nos colegas o impacto da crise”, recorda.
Apesar da sua forte ligação e empenho no associativismo durante o curso de Jornalismo, consegue conclui-lo com o reconhecimento de quatro prémios de mérito académico.
Conseguiu, portanto, conciliar ambas as vertentes, até porque “sempre interpretei que nenhum dirigente associativo o pode ser sem ser um bom estudante. E esse foi sempre um bom princípio que segui para mim”, sublinha o deputado do PS. A entrega da tese do curso atrasou-se um pouco devido ao envolvimento no movimento associativo, que culmina também com a candidatura e integração, em 2013, a ESU – European Students’ Union, uma organização que na altura representava cerca de 15 milhões de estudantes e cujo número hoje ascende aos 20 milhões. Durante dois anos desempenhou funções nesta estrutura, primeiro enquanto “Membership Coordinator” e depois como membro do “Executive Committee” do mesmo organismo.
Desde 2015 e até ao momento, exerceu a função de Técnico Especialista no Gabinete do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Agora o futuro é simples. Pretende conciliar o tempo entre o cargo de deputado, que pretende exercer em exclusividade e a finalização do doutoramento em Políticas Públicas no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. Considera-se uma pessoa “plenamente realizada”. Tem apenas 30 anos, é certo, mas a idade é apenas um número. Está pronto para enfrentar os desafios que a vida lhe colocou, particularmente o mais recente repto de deputado do PS eleito pelo círculo de Coimbra. “O importante é estar convicto das funções que vou exercer. Acima de tudo a política é um serviço que nós prestamos e, enquanto a virmos como tal, é meio caminho andado para desempenhar as funções com lealdade.”
“Decidi inscrever-me no PS, precisamente no dia seguinte a José Sócrates se ter demitido, porque encarei que era o melhor instrumento de combate a uma visão política na qual eu não me revejo. Porque, sabendo que era um momento de viragem na política nacional, encarei a candidatura de Pedro Passos Coelho oposta à visão de sociedade que eu tenho. Foi uma forma de resposta a uma visão ao qual não me revia. A decisão foi também uma decisão emotiva.”
“Parte da minha educação foi ancorada numa visão de sociedade onde ninguém fica para trás nem nos esquecemos daqueles que passam por maiores dificuldades. A minha interpretação do que é o projecto de esquerda, do PS neste caso, é o de que cada um de nós tem uma vida única e irrepetível e que essa vida merece ser vivida com a melhor das condições mas também que a verdadeira meritocracia só é conseguida quando todos temos as mesmas condições independentemente do berço em que nascemos. Eu acredito que a verdadeira sociedade meritocrata só existe quando partimos em igualdade de circunstâncias, e é como eu abordaria uma política de esquerda.”
“Em 2011 quando me inscrevi no PS não me imaginava onde hoje estou. Olhando para trás consigo perceber como tal aconteceu, nunca foi planeado e isso foi, provavelmente, o que mais contribuiu para que isto acontecesse. Chegar a uma lista de deputados não tem a ver com uma questão de planeamento. Há contextos que se criam e muitas vezes de forma involuntária.”
“Há três principais motivos escolher o PS: primeiro, são as provas dadas do que foi conseguido nos últimos quatro anos; segundo, é porque é projecto político que não deixa ninguém para trás; terceiro, porque é um projecto político abrangente, em todas as frentes. Não é apenas sectorial.”
“Temos de evitar uma postura hipercrítica que nos é característica quando falamos na cidade e região de Coimbra. Não que da omissão dos pecados nasça a virtude mas, acima de tudo, porque o importante não é encontrar culpados mas sim criar soluções em conjunto de forma a projectar a região de Coimbra. Obviamente que nós estamos num contexto desafiante para a região, diferente da que tínhamos vivido até há uns anos atrás. Coimbra tendo aqui um posicionamento outrora estratégico, acaba por ter agora um um novo desafio, que deriva da polarização do país entre duas grandes áreas metropolitanas. Temos de encontrar novas centralidades além de Lisboa e Porto. Nós temos todas as condições para nos afirmarmos no futuro no panorama nacional.”
“Estar na política nunca foi um sonho. É um conjunto de felizes acasos”.
“Sinto que, quando se é eleito por um distrito, se assume um projecto regional mas também nacional. Gosto de acreditar que Coimbra tem mais futuro do que passado. Não que não tenha um passado romântico e que nos preenche mas, acontecia no passado e deve acontecer hoje, essa capacidade de projectar o futuro e de sonhar novos impossíveis.”