A licenciatura da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC) vai estrear, em Agosto, um novo plano de estudos, mais ajustado aos recentes desafios mundiais em matéria de cuidados de saúde e mais voltado para o trabalho na comunidade.
O anterior plano de curso de licenciatura em Enfermagem (CLE) da ESEnfC, que vigorava há 12 anos, foi totalmente revisto e actualizado para melhor poder fazer face às alterações verificadas na sociedade, como o aumento da esperança média de vida das populações, o maior número de doenças crónicas (exigindo o incremento dos cuidados domiciliários), ou as novas epidemias e pandemias, tantas vezes ligadas às alterações climáticas e à globalização.
Todos estes factores “criam um quadro de necessidades diferente e desafiante, que a formação de enfermeiros tinha de acompanhar”, afirma o professor Paulo Queirós, presidente do Conselho Técnico-Científico da ESEnfC e um dos impulsionadores da reforma agora concretizada.
Também Ananda Fernandes, directora do CLE, considera que “os enfermeiros têm de estar preparados para trabalhar em novos contextos”, com “a área dos cuidados domiciliários” a ter de “ser mais desenvolvida, quer no apoio aos doentes crónicos, qualquer que seja a sua idade, quer na assistência a pessoas com algum tipo de dependência no autocuidado e aos seus familiares”.
Mas também a presença preventiva de profissionais de enfermagem em “ambientes onde até aqui não tem sido muito frequente”, como creches ou berçários – já não apenas em lares de idosos –, bem como na generalidade dos estabelecimentos educativos, remete para uma “mudança no esquema de pensamento dos futuros enfermeiros, que não pode ser o de se prepararem apenas para ir trabalhar numa instituição”, mas que “tem de ser o de se prepararem para apoiar as pessoas no seu autocuidado e gerirem os cuidados de enfermagem no meio onde elas vivem”, sustenta a directora da licenciatura.
Entre as grandes inovações deste plano de estudos, com início no ano lectivo de 2020/2021, contam-se, por exemplo, o ensino clínico comunitário com enfoque em determinantes sociais de saúde, a prevenção de infecções ligadas aos cuidados de saúde, a enfermagem em cuidados paliativos, os modelos de gestão da doença crónica e a enfermagem em situação de emergência e catástrofe.
Mantendo-se o curso com uma grande componente de formação clínica em contexto de acção, os ensinos clínicos e estágios começam, agora, logo no primeiro ano curricular, visando “uma integração teórico-prática muito forte”, avança Paulo Queirós.
O novo plano de estudos do CLE “desenvolve-se com um conjunto de unidades curriculares no âmbito das Ciências da Saúde (anatomofisiologia, bioquímica-biofísica, microbiologia, nutrição e dietética e farmacologia), mas também no âmbito das Ciências Sociais e do Comportamento, como seja socio-antropologia da saúde, Psicologia da Saúde e Psicologia do Desenvolvimento”, ou ainda “disciplinas específicas das Ciências de Enfermagem, nos diversos ambientes e contextos, e disciplinas como pesquisa e organização do conhecimento, metodologias de investigação, entre muitas outras”, explica o dirigente.
O reforço da componente de práticas laboratoriais de enfermagem e “a utilização de simulação clínica em centros devidamente equipados, de forma a permitir um ingresso nos contextos clínicos reais com os estudantes melhor preparados, quer em técnicas de comunicação, quer em técnicas mais instrumentais, quer nas dimensões éticas e de segurança dos cuidados” foram, também, aspectos tidos em conta no novo plano de estudos da licenciatura.
A formação no âmbito da ética, com uma unidade curricular logo no primeiro ano (outra novidade), a ser consolidada mais tarde, no quarto e último ano do curso, também esteve presente nesta reforma curricular.
“Queremos formar profissionais de enfermagem tecnicamente fortes, cientificamente bem preparados e sob o ponto de vista ético bem capacitados para o juízo constante das suas acções”, advoga Paulo Queirós.
De acordo com Ananda Fernandes, “também neste novo enquadramento a investigação é um pilar essencial no percurso profissional dos futuros enfermeiros”, que “desde a entrada no curso” da ESEnfC, têm “acesso à participação em equipas da Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem, para compreenderem a forma como o conhecimento de enfermagem é produzido e acompanharem o processo desde a sua produção até à sua utilização”.
“Essa translação do conhecimento tem de ser acelerada e será melhorada se, desde o início, o estudante entender como se faz e para que serve a investigação”, salienta a também directora do Centro Colaborador da OMS para a Prática e Investigação em Enfermagem sediado na ESEnfC.