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Em visita à Associação das Cozinhas Económicas Rainha Santa Isabel (ACERSI), em Coimbra, hoje, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, elogiou a instituição mas deixou o alerta de que a pandemia tem criado novos sem-abrigo.
“Estas associações são essenciais porque chegam onde não chega o Estado, as câmaras, as freguesias ou outras associações – algumas que até tiveram de fechar por um tempo -, mas esta aguentou-se, aumentou o número de voluntários e está a apoiar centenas de pessoas carenciadas, ao almoço e ao jantar”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.
Nas Cozinhas Económicas, como em outras associações com a mesma missão, os voluntários são, para o Presidente da República, “insubstituíveis” e significam a “solidariedade que é fundamental ter”.
O Chefe de Estado distribuiu refeições a muitas das pessoas carenciadas que, diariamente, recorrem ao apoio das Cozinhas Económicas, localizada na Baixa de Coimbra, mas sublinhou que, por todo o país tem encontrado novos sem-abrigo, muitos deles jovens que ficaram sem tecto por causa da crise provocada pela pandemia.
“O que é facto é que, olhando para as filas que aqui passaram, e o mesmo no Porto e em Lisboa, encontramos, além dos antigos sem-abrigo, muita gente, portugueses e estrangeiros, que são os novos sem-abrigo e muito novinhos”, notou. Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, a grande diferença passa pelo aumento de “gente muito nova” a recorrer a estes apoios, tendo encontrado trabalhadores precários assim como estudantes.
“Eram da classe média e, de repente, por causa da crise, foram atiradas para uma situação de sem-abrigo sem-tecto ou com tecto mas sem dinheiro”, salientou.
Estes são, para o Presidente, “as vítimas indirectas da pandemia”, um facto que veio também alterar o seu objectivo de “reduzir, até 2023, o número de pessoas que vivem na rua”.
A directora técnica da ACERSI, Ana Maria Cristóvão, explicou que houve um aumento de 200 pessoas que estão a ser apoiadas pela instituição desde o início da pandemia, prestando agora apoio a um total de cerca de 550 pessoas, com mais de 800 refeições diárias.
“Pelos atendimentos que fazemos, pelas pessoas que seguimos e encaminhamos, não me parece que se possa resolver esta crise com a velocidade com que se instalou”, referiu, contando que alguns dos que recorrem à ACERSI perderam o seu emprego, outros retomaram-no e outros retomaram-no mas acabaram por perdê-lo.
Ana Maria Cristóvão salientou, ainda, que a instituição conta com vários casos de pessoas que, sem emprego e sem rede de suporte familiar, passaram a ter muitas dificuldades em “conseguir pagar coisas indispensáveis”.
“Não tenho grande esperança que tudo corra pelo melhor”, admitiu.
Recorde-se que a Associação das Cozinhas Económicas foi uma das entidades que Marcelo Rebelo de Sousa recebeu, na sua residência oficial, em Belém, a 19 de Maio. Na altura, o Presidente quis “ouvir os testemunhos de quem está no terreno”.