1 – Um Parlamento e um Governo incompetentes, pela sua vulgaridade, acabam de galardoar os profissionais de saúde que lutaram, e continuam a lutar na frente de combate desta pandemia, com dois prémios. Jogos de futebol e uma gorjeta monetária. Grotesco e gravoso, em meu entender. Recentemente a Letónia erigiu uma estátua, em Riga, com seis metros de altura, ao profissional de saúde (no caso representado por uma médica), como preito de gratidão à sua coragem, competência, dedicação e sacrifício na luta contra a pandemia. A diferença de atitude tem a ver com a cultura. Bem mais rica no letão do que no português. O atavismo cultural é infelizmente uma das marcas lusitanas. Uma calamidade.
2 – Este atavismo cultural manifesta-se amiúde. Repare-se no que acontece em Coimbra, uma cidade atrofiada, pasmada e sem-luz, apesar da sua Universidade. Uma decisão bacoca de uma antiga ministra da Saúde, socialista, levou à fusão dos HUC com o Hospital dos Covões. Uma calamidade, em meu entender. Germanadas à força, em função de um palpite da tutela, sem sólida fundamentação técnico-científica, aconteceu o que se vaticinava. Descalabro progressivo, com evidente desqualificação e descaracterização das duas Instituições de Saúde, e grave dano para os doentes. Duvido que a actual ministra da Saúde, verbosa, alambicada e dengosa, mas incompetente, e que amiúde convoca a hilaridade ou um sentimento pio, esteja à altura de desfabular esta pantomina. A absurdeza desta fusão deve ser, em minha opinião, urgentemente corrigida. Os HUC e o Hospital dos Covões são duas Instituições que devem recuperar rapidamente a sua plena soberania e a sua identidade, assim o exige o seu passado de elevado prestígio científico, profissional e humano.
(*) Professor catedrático jubilado da Faculdade de Medicina e antigo Director do Serviço de Gastrenterologia dos HUC