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Marcos Júlio

Eleições no PS: Qual é a pressa?

7 de Julho 2020

A Comissão Nacional (CN) do Partido Socialista (PS) deliberou no passado sábado designar os dias 17 e 18 de Julho para a realização de eleições internas para os órgãos das Federações Distritais do Partido, e os dias 12 e 13 de Setembro para a realização dos respectivos Congressos.

Contra a minha opinião (e de outros camaradas) pois que subscrevi uma proposta que propunha o adiamento das eleições até se verificarem condições sanitárias para a realização do acto eleitoral.

Com efeito, num momento em que os números de infectados pela COVID-19 não param de aumentar (pelo menos, não diminuem), em que o país atravessa um risco elevado de contaminação (atestado por alguns países, que nos colocam em lista negra de viagens), e com provas evidentes de que certos fenómenos sociais facilitam o contágio, parece arriscado a realização daquelas eleições.

Está hoje identificado que as eleições municipais (1.ª volta, em Março) em França, bem como eleições realizadas em alguns Estados Americanos (entre outras), fomentaram o incremento de infectados com COVID-19.

Com que autoridade se pede aos jovens que não se juntem ou aos veraneantes que não vão às praias, se depois se exibem estes exemplos?

O PS tem no Distrito de Coimbra (como em todos os outros, mas eu falo só do que conheço) muitos militantes que se enquadram nos identificados grupos de risco. Colocar estes militantes na contingência de ter de optar entre ir votar (e arriscar infectar-se) ou não ir votar (e cercear o exercício dos seus direitos democráticos) é, em qualquer dos casos, um mau serviço à democracia (já para não falar naqueles que estarão nas mesas de voto para assegurar o acto eleitoral).

E tudo isto para eleger Presidentes de Federação e delegados que, o mais certo, é imediatamente a seguir entrarem de férias. Com efeito, só em Setembro, com a realização dos Congressos, serão escolhidos os órgãos federativos e aprovadas as moções de orientação política.

Não vislumbro, por isso, qual a importância de realizar já eleições, sob os auspícios deste estado pandémico, e apetece-me citar um anterior dirigente do PS e perguntar: “qual é a pressa?”.

O mais caricato é que com esta decisão a CN desautorizou-se a si própria, ao presidente do Partido e à Comissão Permanente.

Com que legitimidade a CN impõe a imediata realização das eleições federativas e aceita o adiamento (esquecimento) das eleições para os órgãos nacionais? Implicarão estas, porventura, mais riscos para os votantes?

Porque razão não se aproveita o acto eleitoral para, numa única participação (medida que não seria inédita), se elegerem também os órgãos nacionais do partido?

(*) Membro da Comissão Nacional do PS