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UC: Muitos doentes com artrite reumatóide podem estar com medicação em excesso

3 de Julho 2020 Jornal Campeão: UC: Muitos doentes com artrite reumatóide podem estar com medicação em excesso

Uma parte muito significativa de doentes com artrite reumatóide, doença inflamatória das articulações, pode estar com medicação excessiva devido a má auto-avaliação da sua condição, conclui um estudo hoje divulgado pela Universidade de Coimbra (UC).

O estudo, que reflecte “ensaios clínicos e contextos de prática clínica corrente”, com dados de mais de 23 mil doentes, foi realizado por uma equipa de especialistas liderada por José António Pereira da Silva, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) e director do Serviço de Reumatologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).

“Uma vez que ainda não há cura para a artrite reumatóide, alcançar o estado de remissão da doença, isto é, a ausência completa de actividade inflamatória, é fundamental para os doentes e para os médicos conseguir-se definir esse estado de remissão”, sublinha, a UC.

Um dos indicadores usados na clínica para essa definição é a avaliação global pelo doente (PtGA), reportada pelo paciente sobre o seu estado. Mas, adverte a UC, trata-se de um indicador que depende da interpretação do doente, podendo afectar o tratamento.

Segundo as normas internacionais estabelecidas para o tratamento da artrite reumatóide, apoiadas pelas associações europeia e americana de reumatologia, a remissão da doença exige que não exista mais do que uma articulação dolorosa ou inflamada e que a avaliação global pelo doente seja, no máximo, de um, numa escala analógica de zero a 10, refere a UC.

Os investigadores quiseram analisar o impacto da avaliação global pelo paciente (na obtenção do estado de remissão em doentes com artrite reumatóide), refere a UC, adiantando que, para isso, realizaram “uma meta-análise a oito estudos nacionais e internacionais, reflectindo ensaios clínicos e contextos de prática clínica corrente, com dados de 23297 doentes”.

Os resultados permitem concluir que a avaliação global pelo doente “é a principal causa isolada de não atingimento do estado de remissão”, relata José António Pereira da Silva.

“Com efeito, apreciando os resultados destes estudos, incluindo dois da nossa autoria, concluímos que 12% dos 23 297 pacientes atingiam remissão completa, enquanto 19% a falhavam apenas pela avaliação global reportada pelo doente”, explicita.

Considerando que, em estudos anteriores, já tinha sido demonstrado que “a avaliação global pelo doente não traduz, nestas circunstâncias, a presença de inflamação persistente, antes estando relacionada com doenças concomitantes, dores de outra origem e estados depressivos”.

Estes resultados “indicam que uma parte muito significativa dos doentes com artrite reumatóide estará a receber tratamento em excesso, se forem seguidas as recomendações internacionais, visto que a circunstância que impede o atingimento do alvo terapêutico não é passível de melhoria por tratamento dirigido à artrite reumatóide”, explica o catedrático da FMUC.

Ou seja, reforça, “esta avaliação global da doença pelo paciente impede, inadequadamente, que uma percentagem elevada de doentes atinja o alvo terapêutico de ‘remissão’, colocando-os assim em risco de tratamento excessivo”.

De acordo com as directrizes internacionais estabelecidas, “caso a remissão não seja atingida, o tratamento deve ser reforçado. Isto justifica-se porque a remissão corresponde ao melhor resultado sintomático e também à melhor garantia de preservação a longo prazo da integridade estrutural das articulações e da capacidade funcional do doente”.

Este estudo, distinguido no Congresso Europeu de Reumatologia 2020, que decorreu recentemente em formato ‘online’, devido à pandemia, insere-se “num movimento com forte impacto internacional, liderado pelo Serviço de Reumatologia do CHUC, no sentido de rever as definições internacionais de remissão e alvo terapêutico nesta importante condição clínica”, refere ainda José António Pereira da Silva.