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CHUC analisou impacto da covid-19 nos seus profissionais

2 de Julho 2020

Sob a coordenação do enfermeiro António Marques, o Núcleo de Investigação em Enfermagem (NIE) do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), analisou o impacto da covid-19 nos profissionais de saúde daquela unidade hospitalar.

A análise, intitulada “impacto da covid-19 nos profissionais de saúde do CHUC, implicações na gestão dos recursos humanos, na saúde e nas vivências pessoais”, foi realizada em conjunto com os Serviços de Psiquiatria, Psicologia, Saúde Ocupacional e a Unidade de Investigação em Ciências da Saúde / Enfermagem, da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC).

Assim, considerando que os dados da pandemia no país são do conhecimento público, o CHUC apresenta alguns dos dados apurados com este projecto, com destaque para “as baixas taxas de incidência tendo em conta um grupo de 6 393 profissionais em actividade”.

“Na análise da evolução da incidência ao longo do tempo, constata-se que tanto os enfermeiros (grupo mais exposto), como os restantes profissionais, infectaram-se quase exclusivamente nos meses de Março e Abril, quando a política de prevenção ainda não estava devidamente estabelecida e depois devido a situações inesperadas, sendo que as infecções não ocorreram nos serviços dedicados à covid”, salienta o CHUC.

Para além disso, há que destacar igualmente a gestão do absentismo, relacionado com os casos de covid-19 e o encerramento de escolas, tendo sido “necessário mobilizar 310 enfermeiros e 154 assistentes operacionais. Estes enfermeiros foram submetidos a 682 movimentos e os assistentes operacionais a 352. Foram admitidos, no período de 15/03 a 01/06, 58 enfermeiros e 54 assistentes operacionais”.

“Um dos objectivos deste estudo é, também, conhecer as vivências dos profissionais que estiveram a trabalhar em serviços dedicados à covid ou que foram, eles próprios, infectados”. Assim, nota o estudo feito, até ao momento, com 20 entrevistados, “foi possível identificar cinco grandes temáticas:

  • nível organizacional – a importância do tempo para organizar os processos e as rotinas, para treinar procedimentos, integrar novos elementos, tendo sido identificada a experiência com doenças infecciosas como um factor chave;
  • a liderança – destaque para a importância do envolvimento dos colaboradores nos processos de decisão, na preparação e contínua adaptação dos serviços, bem como a proximidade e confiança;
  • o trabalho em equipa – os tempos de dificuldade promoveram mais união entre os diferentes intervenientes e uma maior necessidade dos profissionais se cuidarem mutuamente, nomeadamente na ajuda da gestão das emoções (stress, irritabilidade, ansiedade, choro), culminando numa maior valorização do trabalho em equipa, como uma forma muito mais efectiva de trabalho para todos;
  • as vivências na prestação de cuidados – muitas aprendizagens decorreram desta vivência desafiante, sobretudo em termos de comunicação com o doente e familiares (combater a solidão e ausência), à gestão da sobrecarga física e psicológica de prestar cuidados em condições extenuantes e extremamente difíceis, tanto sob o ponto de vista técnico como humano;
  • as vivências pessoais – não menos importante nesta análise, são as experiências que marcaram indelevelmente a vida dos profissionais que se sacrificaram pessoal e familiarmente, trabalhando inclusive medicados para controlar febre e dores, ausentando-se das suas famílias por meses. As repercussões ficaram, notam-se ainda hoje, nomeadamente por situações de depressão, ou influência nas relações conjugais. Mas, apesar de todas estas dificuldades, os profissionais expressaram confiança e optimismo para o futuro e um elevado sentido de ética profissional.

Na linha de análise sobre as vivências e aprendizagens em tempos de covid-19, a Fundação Index de Espanha, através do seu coordenador, convidou o coordenador do NIE do CHUC, António Marques, para a realização de um vídeo e participação em webinar, que terá lugar hoje, pelas 16h45, em http://www.fundacionindex.com/fi/?page_id=1493. Nesta síntese que se apresenta no vídeo, colaboraram também os enfermeiros Ricardo Ferreira e Andrea Marques, membros do NIE.