Pelo andar da carruagem Manuel Machado vencerá as próximas eleições autárquicas de forma tranquila – não obstante o descontentamento social que um pouco por todo o município se vai escutando. A um ano e três meses do próximo acto eleitoral, a gestão do silêncio socialista vai dando e sobrando para os tímidos lampejos da parte da oposição. É inquietante para o espírito democrático a hegemonia política que se está a desenhar e a incapacidade de contrariar essa tendência.
A estratégia de Machado é simples: falar o menos possível, aparecer em momentos chave, asfixiar o peso da sua vereação com excepção do pelouro cultural, controlar as freguesias retirando-lhes margem de manobra, apostar em sucessivos lançamentos de obras públicas, fazer da página do Facebook do Município uma enorme máquina de propaganda política, sossegar a sua corte napoleónica.
A oposição, neste momento, só apresenta três rostos verdadeiramente activos com algum peso político, notoriedade pública e trabalho de terreno: José Manuel Silva (Somos Coimbra), João Francisco Campos e Madalena Abreu (PSD). É óbvio que estes partidos, em especial o PSD; têm extensas filas de candidatos, pseudo-candidatos e candidatos a candidatos! Mas não me parece que os nomes que têm vindo à baila, como Maló de Abreu, Margarida Mano, Barbosa de Melo ou João Moura, reúnam condições mínimas para aspirarem a destronar o machadismo. Nuno Freitas até começou bem, com uma moção muito bem desenhada, mas depois foi perdendo fulgor.
Neste contexto, e tendo em atenção os resultados eleitorais de 2017, a oposição só tem um caminho a seguir se quiser constituir-se como alternativa credível: entendimento alargado, com criação de uma plataforma de centro direita e centro esquerda, unindo todas as forças partidárias e muito eleitorado descontente, incluindo uma assinalável componente de militantes socialistas descontentes com a actual governação autárquica. José Manuel Silva seria, obviamente, o rosto principal desta nova arquitectura de disputa de poder.
Este movimento obrigaria a muitas cedências e necessitaria de diálogo continuado, de homens e mulheres capazes de fazerem a ponte entre margens desavindas. Coimbra precisa de um novo tempo político. Mas esse tempo começa a esgotar-se como grãos de areia por entre os dedos das mãos…
(*) Historiador e investigador