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Portugal é “o campeão europeu” dos incêndios

25 de Junho 2020

Todos os anos, em Portugal, arde mais de três por cento da floresta, fazendo do país o “campeão” dos incêndios, segundo revela, hoje, um relatório da Associação Natureza Portugal/Fundo Mundial para a Natureza (ANP/WWF).

O documento, intitulado “Um Planeta em Chamas”, aponta esta situação, em grande parte ao abandono rural, cessação de actividades agrícolas tradicionais e ausência de políticas, analisando o panorama dos incêndios florestais em Portugal e Espanha e apresentando propostas para a prevenção dos fogos.

“Portugal é o país europeu mais castigado pelos incêndios. Nos últimos 30 anos é o que mais sinistros enfrentou e aquele em que mais hectares foram queimados”, lê-se no documento, dando conta que, em média, ocorrem no país, por ano, cerca de 17.000 sinistros, mais 35 por cento do que em Espanha.

O relatório da WWF sobre os incêndios florestais na Península Ibérica frisa, também, que são queimados cerca de 120.000 hectares em média por ano em Portugal, mais 20 por cento do que em Espanha, apesar de ter menos 80 por cento de superfície florestal.

“Este valor significa que todos os anos Portugal vê arder mais de três por cento da sua superfície florestal, em comparação com 0,4 por cento em Espanha. Portugal é o primeiro país da Europa e o quarto do mundo que perdeu a maior massa florestal desde o início do século XXI, em grande parte devido aos incêndios florestais que assolam o país todos os verões”, precisa o documento.

A WWF sustenta que “ano após ano, a área ardida não pára de crescer” em Portugal, justificando esta situação com “um sem fim de factores, desde o abandono rural, cessação de actividades agrícolas tradicionais, à ausência de políticas sérias de gestão do território e gestão florestal responsável”.

O relatório frisa, ainda, que Espanha e Portugal “são e serão países de incêndios extremos que muito provavelmente viverão cenários muito perigosos de intensidade semelhante”.

A WWF refere que, nos últimos anos, centenas de pessoas perderam a vida em incêndios em países como Portugal, Grécia, Itália e Espanha, mas que dificilmente chegarão a ter a extensão e duração dos da Austrália.

No entanto, sublinha que, se continuarmos com esta dinâmica, os incêndios, em especial os que afectam a área de interface urbano rural, vão colocar “cada vez mais em sério risco a vida das pessoas”.

Segundo a WWF, os incêndios já não representam apenas danos ao património ambiental e rural, sendo também “um grave risco para a vida das pessoas e um lastro para os cofres públicos” ao deixar milhares de desalojados e danos materiais não quantificáveis.

A associação considera que o Governo português deve colocar em marcha o Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais.

O relatório “Um Planeta em Chamas” destaca que, a nível global, a problemática dos grandes incêndios está “intrinsecamente ligada com as alterações climáticas” e evidencia o desequilíbrio existente entre medidas de prevenção e de extinção e como estas “sistematicamente se revelam insuficientes para resolver este problema ambiental”.

O mesmo documento reforça, igualmente, que para combater os grandes incêndios é essencial apostar na prevenção, valorização das áreas rurais, tornando as paisagens mais resilientes e na mudança de comportamentos da população em geral.

“2019 fica marcado na história do planeta como o ano dos incêndios, e se as causas diferem de país para país, as condições perfeitas para este tipo de fenómeno são consequência de uma crise comum: as alterações climáticas. Os últimos 20 anos foram os mais quentes de que há registo, e se esta tendência se mantiver, os incêndios também se manterão”, concluiu o relatório, que faz ainda uma relação entre os fogos e a pandemia de covid-19.

“A pandemia covid-19 tem uma clara relação com a desflorestação e a perda de biodiversidade. Os incêndios, como principal ferramenta para a destruição de florestas, podem ser a receita perfeita para a propagação de agentes patogénicos. A protecção das florestas em todo o mundo é a vacina mais eficaz e sustentável”, precisa.