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Portugueses são dos mais preocupados com legitimidade de conteúdos online

16 de Junho 2020 Jornal Campeão: Portugueses são dos mais preocupados com legitimidade de conteúdos online

Os portugueses estão no grupo dos países mais preocupados com a legitimidade dos conteúdos na Internet, com três quartos a manifestarem-se preocupados com o que é real e falso, segundo o Digital News Report (DNR) Portugal 2020.

“Portugal destacou-se, em 2019, como o segundo país cujos cidadãos mais se preocupam com a legitimidade de conteúdos digitais, cerca de 75 por cento dos inquiridos do Reuters DNR PT 2019. Se este dado levantou algumas questões quanto à real consolidação dessa preocupação, os dados de 2020 confirmam de forma inequívoca esse aspecto, com 76 por cento a revelar preocupação com legitimidade de conteúdos digitais”, lê-se no relatório.

“Uma vez mais, Portugal surge em segundo lugar atrás do Brasil (88 por cento) e a par do Quénia (76 por cento) e seguido da África do Sul (72 por cento)”.

“A desinformação tem, lentamente, ganhado protagonismo na agenda mediática em Portugal, seja com a adesão dos órgãos de comunicação social a iniciativas de ‘fact-checking’ [verificação de factos], seja com acontecimentos específicos, tais como o último dia de campanha para as eleições legislativas de 2019 ou a tensão política gerada com o resultado das mesmas eleições e com a recomposição do parlamento em termos de representação partidária”, refere o relatório.

“Uma investigação realizada pelo MediaLab do ISCTE -IUL, com o qual o OberCom [Observatório da Comunicação] colabora em permanência, tem revelado que os mecanismos de desinformação ‘online’ em Portugal são extremamente complexos, beneficiando da activa participação dos utilizadores de redes sociais”, acrescenta o documento.

“Se inicialmente estes padrões de sociabilidade eram mais visíveis em redes sociais ‘abertas’ como o Facebook, a crise pandémica da covid-19 revelou que também as ‘apps’ [aplicações] de mensagens como o WhatsApp são estruturas muito relevantes na análise das dinâmicas de desinformação ‘online’ na sociedade portuguesa”, prossegue.

Mais de um terço (34,5 por cento) dos portugueses estão “mais preocupados com a desinformação no Facebook do que em ‘apps’ de mensagens como o WhatsApp (31,1 por cento), sendo que 40,4 por cento dos portugueses se dizem preocupados com desinformação proveniente de redes sociais, em geral”.

Mais de um quinto dos inquiridos (22 por cento) manifestou preocupação com os ‘sites’ e ‘apps’ noticiosas.

“Em termos de fontes gerais, fora da esfera digital, a que mais preocupa os portugueses são Governo, políticos ou partidos políticos nacionais (40,1 por cento) numa proporção semelhante à dos que se dizem preocupados com a desinformação em redes sociais”, adianta DNR PT 2020.

Quase um quinto (18,6 por cento) dos inquiridos afirmou-se preocupado com desinformação em jornais ou marcas de notícias e 13,5 por cento com informação ilegítima proveniente de outros cidadãos.

“É importante realçar que a proliferação de conteúdos falsos, total ou parcialmente, depende não só do emissor/produtor original, mas também de uma distribuição eficaz, dependendo para tal de receptores incapazes de interpretar os conteúdos de forma crítica e, portanto, com maior probabilidade de os replicar e partilhar”, aponta o relatório.

“A crise pandémica foi, sem dúvida, um acontecimento marcante também neste aspecto. Apesar do esforço dos órgãos de comunicação social em fornecer conteúdos fiáveis e irrepreensíveis do ponto de vista jornalístico, a sede informativa dos portugueses, confinados em suas casas tornou os conteúdos ilegítimos uma fonte de informação acessível, por várias razões”, salienta.

Entre essas razões estão a “dificuldade de compreender a escala e complexidade da situação, que mistura dinâmicas sociais sem precedentes com aspectos sanitários e científicos de difícil compreensão”, a “multiplicidade de fontes activas, desde oficiais a escala nacional, local ou regional e pelo rápido ritmo de actualização dos acontecimentos”, e a “facilidade com que os conteúdos ilegítimos se sobrepõem aos conteúdos jornalísticos, que exigem um maior esforço interpretativo e perfis de literacia mais desenvolvidos”.

“Níveis de confiança elevados nas notícias, preocupação com o que é real ou falso na Internet, aumento do poder das grandes plataformas na distribuição de notícias, o ‘smartphone’ a ganhar distância face aos restantes dispositivos para acesso a notícias online, o interesse dos portugueses por notícias veiculadas pelos órgãos de comunicação social regionais, a continuação do aumento dos ‘podcasts’ e da importância da televisão, como fonte de notícias, são pontos de destaque” do DNR PT 2020.