Assisti ao evento promovido pelo diário As Beiras na rede social Facebook – 3.º webinar sobre a Retoma da Cultura – que contou com figuras consagradas do meio cultural: Suzana Menezes (directora Regional da Cultura), Luís de Matos (coordenador da Coimbra Capital Europeia da Cultura, 2027) e Bruno Paixão (coordenador da delegação de Coimbra do Inatel).
O tema interessava-me sobremaneira, pois sendo empreendedor cultural desde 2003, e estando a sofrer os efeitos dos tempos pandémicos que atravessamos, queria aquilatar das perspectivas futuras de quem se movimenta nas altas esferas da cultura: que sensibilidade, que diagnósticos, que propostas, que caminhos seguir.
Dois dos intervenientes foram eloquentes nas suas preocupações: Suzana, com uma imensa área territorial a seu cargo, colocou a tónica nos cuidados a ter com a reabertura dos espaços públicos de percurso cultural; Paixão, herdeiro de um imenso legado emergente das comunidades locais, focou-se na preservação da diversidade do ecossistema cultural, usando a imagem da árvore que resiste e das folhas mais frágeis que podem ficar pelo caminho.
Matos, o mais interventivo, acabou por concluir o seu raciocínio com uma pergunta generalista mas inquietante: se queremos, na retoma da cultura, trabalhar individualmente como até aqui (assumindo dessa forma que é a praxis corrente) ou se preferimos agir em cardume – forma de garantir a partilha e integração das diferentes formas de produção cultural e sua afirmação (assumindo que não é assim que vimos trabalhando, com prejuízo para o sector cultural).
Não me parece que Matos tenha sido muito feliz na sua comparação. O que é afinal um cardume? Procurando num dicionário de referência podemos ler: «É o substantivo colectivo que designa um grupo de peixes, normalmente da mesma espécie, e do mesmo grupo etário, que nadam como se fossem um único indivíduo».
Assim sendo pergunto-vos: é isto que queremos da cultura? Um grupo cujos elementos são todos da mesma espécie, com uma mesma idade, nadando como se fossem um só? Não será preferível um ecossistema com vários cardumes, de diferentes espécies, nadando em diferentes mares e em direcções diversas? Para mim a cultura implica diversidade, pluralidade e liberdade.
E o leitor, o que pensa?
(*) Historiador e investigador