A maioria dos restaurantes de leitão da Mealhada já reabriu as portas, com lotações reduzidas e cuidados redobrados, mas com confiança reforçada pela inexistência de covid-19 entre proprietários e funcionários que realizaram os testes de despistagem.
“Está a correr melhor do que esperava, tendo com conta as previsões e o clima em que vivemos”, disse Filipe Castela, dono do Pedro dos Leitões, à agência Lusa.
Mais de 300 funcionários e proprietários das mais de três dezenas de restaurantes de leitão já fizeram os testes de despistagem, realizados pelo Centro de Saúde local e pagos pela Câmara Municipal da Mealhada.
Com salas reduzidas na lotação e cuidados de higiene extra, que incluem a desinfecção regular de mesas, pratos, talheres e utensílios e lavabos, os restaurantes voltaram em força ao trabalho e as primeiras impressões são positivas.
“Sinceramente, esperava que fosse muito pior”, refere Sandra Alves, dona do histórico Pic-Nic Dos Leitões, o restaurante que tem como visitante regular a cantora brasileira Fafá de Belém, a maior divulgadora desta casa em Portugal e no estrangeiro.
Sandra Alves conta que reduziu para metade a lotação das duas salas: numa, senta agora apenas 28 pessoas, na outra, junta 30 pessoas em mesas separadas por pelo menos dois metros.
Todos os funcionários já realizaram os testes de despistagem da covid-19 e irão repeti-lo regularmente, promete.
De resto, casas como o Pedro dos Leitões, Vírgilio, a Nova Casa, a Meta e a Metinha, o Rocha ou o Rei dos Leitões apostaram todos na mesma fórmula: menos mesas, mais espaço, uso de máscaras e luvas, higienização permanente.
“Fechámos uma das três salas. Nas outras duas reduzimos o número de mesas, aumentámos o espaço entre os clientes e impusemos todas as medidas de higiene e boas práticas recomendadas pela Direção Geral da Saúde”, relata Filipe Castela.
O proprietário do Pedro dos Leitões mostra mesmo algum entusiasmo com a adesão dos clientes, fazendo já planos para recuperar metade dos funcionários que estão em regime de ‘lay-off’ ou com horário reduzido.
“Estamos a apalpar terreno, mas, se as coisas continuarem neste caminho e a procura continuar a aumentar. será possível recuperar alguma normalidade, embora nunca mais vá ser como antes”, admite.
O encerramento forçado de dois meses foi uma oportunidade de diversificar o modelo de negócio, numa tentativa de sobrevivência, com quase todos a apostarem no “take-away” ou até na entrega ao domicílio.
Neste campo, distingue-se o Rei dos Leitões, que passou a fazer entregas de leitão da Bairrada em todo o Portugal continental, tendo investido em viaturas (compra e aluguer) que percorrem todo o país, fazendo regularmente entregas em Lisboa e até no Algarve.
“O serviço de take-away e de entregas ao domicílio vai manter-se, de Norte a Sul do país, com forte aposta no leitão, mas também no ‘polvo à lagareiro’, ‘bacalhau na brasa’, ‘lasanha de lagosta’, ‘plumas de porco ibérico’, ‘cabrito grelhado’, ‘galo’ ou ‘cabrito assado no forno'”, prometem António Paulo Rodrigues e Licínia Ferreira, proprietários do Rei dos Leitões.
O restaurante, que tem conquistado diversos prémios nos últimos anos pela sua cozinha e carta de vinhos, beneficiou de obras durante o período do confinamento, recebendo agora os clientes com uma passadeira vermelha assente em calçada à portuguesa.
“A reabertura dos restaurantes do concelho da Mealhada está a revelar-se globalmente muito positiva e decorre sob as mais rigorosas regras de higiene e segurança. Estamos muito satisfeitos e otimistas”, disse à Lusa o presidente da Câmara, Rui Marqueiro.
Como forma de dar o exemplo, os membros do executivo municipal da Mealhada almoçam todos os dias num restaurante diferente.
“É um incentivo, um sinal que nós próprios damos de que é seguro frequentar os restaurantes da Mealhada e recomenda-se”, refere Marqueiro.
Mas nem tudo são casos de sucesso na reabertura dos restaurantes da Mealhada. A pior notícia é a do encerramento do complexo Três Pinheiros, que apresentou um pedido de insolvência na semana passada.
“O nosso modelo de negócio, com mais de 40 anos, assentava em grupos de visitantes, que desfrutavam de muitos serviços. Noventa por cento da nossa facturação no restaurante vinha de grupos muito alargados de pessoas, uma situação que acabou por causa da pandemia”, relata.
Cláudio Pires refere que o complexo não tinha capacidade financeira para esperar até pelo menos Março de 2021, altura em que, antecipa, “as coisas possam começar a regressar ao normal”. E queixa-se também da falta de apoios do Estado.
“Não houve financiamento a fundo perdido, para que negócios como o nosso se pudessem aguentar nesta fase crítica, apenas empréstimos. Que sentido faz endividar a empresa por muito tempo?”, questiona.