Todos percebemos, uns mais do que outros, atendendo às obrigações e às responsabilidades, já que a vida não para, que o período obrigatório de isolamento a que fomos votados, não foi suficiente para debelar a ameaça efectiva do novo coronavírus.
Temos de tudo! Há cenários catastróficos na economia e para a sociedade à escala global, que é aquela em que navegamos, para quem ainda tinha dúvidas. Só não tinha de ser da pior maneira! E há os apelos para o regresso à normalidade. Pelo meio, que é extenso, há tudo o que se possa imaginar. O melhor a fazer parece ser adaptarmo-nos à nova realidade…
Tentado a posicionar-me no final de 2020 a fazer o balanço, diria que a crise afinal não teve fim. Não conseguimos regressar à normalidade e o novo normal é uma coisa incerta, que afinal se traduziu no mais certo que passámos a ter. Talvez sim ou talvez não, tudo depende.
As enormes mudanças que a pandemia impôs, podem ter afinal, um carácter permanente e abarcam a sociedade, a economia, a família, a política, a ciência, o ambiente, ou seja a vida das pessoas. Parece que vivemos um efeito idêntico ao de outros fenómenos na história, seja a I Guerra Mundial, a Grande Depressão ou mesmo a II Guerra Mundial. E como então, as consequências são absolutamente imprevisíveis. Por estes dias também há quem refira uma pandemia económica de maior gravidade do que a covid-19 e com consequências dramáticas, que pode levar a falências, fraudes, roubos, aumento da criminalidade e aumento da pobreza.
Mas poderá a crise fazer acelerar e fortalecer a colaboração entre os países numa lógica de adaptação e sobrevivência? Muitos referem como exemplo a “diluição” do Brexit. A ver vamos.
Inclusive nesta senda de “estarmos todos juntos para o futuro”, acredito que a Europa pode tornar-se referência orientadora ao nível global nos próximos tempos, sendo que a própria comunidade científica global enveredará também ela própria, por um fenómeno colaborativo de trabalho mais próximo e independente. E bem!
É inevitável o pensamento face à questão energética e a (não) utilização de combustível fóssil que se percebeu por estes tempos de pandemia.
A questão laboral não vai ficar de fora do nosso futuro próximo com toda a certeza. Algo menos bom ou o desemprego poderá abrir oportunidades à criação de novas empresas pelos próprios? Haverá muitas mudanças de carreira ou trabalho?
Claro que a tecnologia sai por cima nisto tudo. Não parece difícil percebermos que as mudanças observadas no teletrabalho poderão ter implicações permanentes. Só não sabemos ainda como. O destaque da tecnologia neste acontecimento mundial é de tal ordem, que estamos todos, sempre online. Das as aulas ao trabalho. Nos pedidos de alimentação e produtos, passando pelos espectáculos de cultura, tudo cabe online.
Ressalvo no entanto a questão da Ética digital. O debate sobre este assunto vai ser abundante, até porque os Estados poderão (ou não) cair na tentação de fomentar a vigilância estatal e regulamentar de forma apertada o novo normal, após todas as medidas de excepção que foram implementadas, independentemente de, ao mesmo tempo, a relação entre os seres humanos após o isolamento social experimentado se tornar preciosa.
Em resumo, estamos a aprender a viver com a incerteza e nesse particular destacava o naturalista britânico Charles Darwin, autor da teoria sobre a evolução das espécies:
“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.”
(*) Gestor/Administrador no Coimbra iParque