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Semanário no Papel - Diário Online

 

Cristina Martins

Que esta seja a lição, para que todos percebam…

24 de Abril 2020

Sou do tempo, da série televisiva (a preto e branco) “O Espaço 1999”, que parecia algo tão distante, tão irreal. Recordo o telefone da casa dos meus avós maternos, que tinha uma manivela do lado direito. Tanta coisa para recordar, os primeiros telemóveis, que quando um tocava, todos olhavam, como se algo extraordinário tivesse acontecido.

Os últimos 20 anos foram, sem dúvida, de um crescimento tecnológico imparável. O moderno de hoje está amanhã ultrapassado. Os Países e o Mundo ficaram mais “pequenos”, tudo ficou mais perto. De repente, à distância de um dedo podemos ensinar, curar, assaltar, matar, ver e falar com quem queremos…

Esta é a realidade, a realidade tecnológica, mas não é uma realidade afectuosa. Ao longo destas duas décadas, houve um empobrecimento de ideais, de valores solidários e de respeito pela igualdade e pelo próximo.

Para os jovens do meu tempo, que éramos os putos do 25 de Abril, a política era o sonho de uma sociedade mais justa, de um País mais fraterno (e acredito que esse Abril, que me foi prometido, ainda há-de chegar). Para outros, um pouco mais jovens, vêem na política o carreirismo e a vaidade sem limites, vazios de afectos e de ideais, não olham a meios, para alcançar os seus fins, usam estratégias de mentes doentes, que os levam a fazer as maiores vigarices, para ganharem internamente eleições.

Como se pode confiar num político, cuja sua eleição não foi transparente, que o seu ideal é o interesse pessoal e se baptizam de politicamente correctos? Não se pode, nem se deve confiar, não tem sentimentos; consegue ser sempre educado, calmo, manter um semblante intocável, como se estivesse cheio de botox e nem pudesse rir ou chorar. Já o politicamente sincero é bem diferente, deixa marcas no rosto, mostra, dependendo da situação, revolta ou alegria na voz e foram, estes, os conquistadores da liberdade, muitos deram a vida em troca dela.

Chegamos a 2020, com um Globo e dois Mundos. Um que se organizou em volta de uma economia de enriquecimento, na busca desenfreada pelo que não têm, procuram água em Marte e poluem os Oceanos na Terra, procuram oxigénio noutros planetas e destruíram a camada de ozono no nosso. Outro, mais real, com que ninguém se importa (a não ser para a foto) que sofre, trabalha, que aprendeu a obedecer e que se necessário tem epidemias (ex: Ébola), ou vive debaixo de um chicote, à procura de diamantes, numa Serra Leoa.

Portugal, não foi diferente, tal como a Terra que me viu nascer, Mirandela, ou, aquela, que eu escolhi por paixão, Coimbra. Cresceram, mas os valores não acompanharam o desenvolvimento. Todas elas geraram, algumas gentes, de muita vaidade e pouca qualidade. Claro que há pessoas e profissionais de grande categoria, mas tal como a Aquiles, que lhe bastou o calcanhar desprotegido, também nós temos estado desvalidos de políticos que defendessem as necessidades de todos, em vez dos simples interesses de alguns.

Hoje, mais que nunca, sentimos que somos um País de serviços. Afinal não era com rendimentos mínimos que resolvíamos os problemas, mas com uma economia própria e não dependente. Não temos necessidade de ser criticados, pelos que têm mulheres nas montras e bebem cervejas em copos de litro. Nós somos capazes, basta que os nossos políticos nos deixem… mas, não é, com toda a certeza, com a carga de impostos, ou com os inteligentes, que nem conseguiram, ganhar eleições de uma forma séria, democrática e transparente ou, com aqueles, que com o seu silêncio lhes foram solidários.

A Terra deu-nos sol, água, calor, frio, chuva, luz, escuridão… tudo para nos mostrar a nossa igualdade e, só nos apercebemos quando nos deu uma pandemia, que colocou o mundo em alerta e os poderosos com medo.

Que esta seja a lição, para que todos percebam, que só devemos olhar alguém de cima para baixo, se for para o ajudar a levantar.

(*) Professora de Matemática no Ensino Secundário