Uma das maiores preocupações dos países mais atingidos pela covid-19, centra-se nos lares de idosos. Em Portugal, e em particular na cidade de Coimbra, houve alguns casos de vítimas mortais e bastantes infectados.
A instituição atingida mais recentemente foi a Casa dos Pobres de Coimbra, onde o novo coronavírus entrou devagar, na quinta-feira (09), crê a presidente da instituição, Luísa Carvalho, que após a troca das equipas de colaboradores (já a trabalhar ‘em espelho’ desde o início do estado de emergência).
Ontem (22), a Casa dos Pobres registava 29 utentes infectados (num total de 63), mas encontravam-se estáveis, sendo que uma das idosas está internada no Hospital e “num estado bastante debilitado e é, actualmente, a situação mais preocupante”. Desta situação resultaram duas mortes associadas à covid-19, contudo, explica a responsável, “eram já casos de doentes com outras patologias graves”. Entre os casos positivos, encontram-se ainda seis funcionários, que também estão em isolamento dentro da própria instituição.
A Casa dos Pobres foi, entretanto, sujeita a quatro desinfecções nas suas várias áreas, tendo a Direcção optado por manter todos os utentes nas próprias instalações, por ter condições de separar os idosos com covid-19 e os não infectados. “No corredor dos quartos, que tem duas entradas, conseguimos dividi-lo e fazer um circuito seguro para utentes covid e não covid”, explicou Luísa Carvalho ao “Campeão”.
A presidente revelou, ainda, que a instituição está a retomar as suas rotinas “dentro da normalidade possível”, incluindo os utentes não diagnosticados com covid-19 a fazerem “uma vida normal”.
A Casa dos Pobres tem, neste momento, “a situação controlada”, com equipas a trabalhar em pleno, incluindo a de enfermagem e com apoio do Centro de Saúde e, por força das circunstâncias, com voluntários que entretanto se juntaram aos colaboradores.
“Esta Casa tem uma mística muito especial e estamos a saber ultrapassar mais esta adversidade”, afirmou Luísa Carvalho.
Santa Casa da Misericórdia de Coimbra “imune” ao vírus
No final de Março, o secretário regional de Coimbra da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), António Sérgio Martins, alertava que estas instituições estavam “entregues a si próprias”. Na altura, realçava o facto de não haver “qualquer tipo de resposta efectiva, designadamente ao nível dos testes”, uma situação que se mantém. O responsável garantiu ao “Campeão” que as Misericórdias continuam “sozinhas” e se há testes feitos, tem sido por “conta própria ou em colaboração com as autarquias”.
“Começa a haver uma preocupação diferente mas as soluções demoram a chegar”, queixou-se António Sérgio Martins, que salientou que a “chamada de atenção” para as Misericórdias só chegou após a confirmação de casos positivos na Unidade de Cuidados Continuados (UCC) na Santa Casa de Tábua, que até agora continua a ser a única com doentes infectados com covid-19, mas a situação “está controlada”.
Assim, e por terem implementado desde cedo planos de contingência, pese embora as dificuldades, a Santa Casa da Misericórdia de Coimbra faz parte do grupo de instituições que continua imune à doença.
Segundo José Vieira, provedor da instituição, o plano de contingência do CATI – Centro de Apoio à 3.ª Idade foi criado e discutido logo no dia 13 de Março. Um dia depois foram proibidas as visitas à instituição e, a 16 de Março, começou a ser implementado o plano.
“Demos instruções claras aos colaboradores sobre quais as medidas a adoptar e, hoje, quem entra na instituição tem de ter, obrigatoriamente, equipamentos de protecção. Os colaboradores têm de tomar banho quando entram ao serviço, equipam-se devidamente, e no final do turno devem, novamente, tomar um duche”, explicou José Vieira ao “Campeão”.
O CATI tem, neste momento, 60 utentes, com média de idades de 85 anos e muitos deles dependentes mas, acredita o provedor, as medidas preventivas tomadas desde cedo e a responsabilidade de uma “equipa de excelentes profissionais” permitiu que a instituição permaneça “imune” ao novo coronavírus.
No total, o lar da Santa Casa da Misericórdia de Coimbra conta com 83 trabalhadores (para além de dois médicos em regime de voluntariado e nove enfermeiros 24 horas por dia), esperando receber, dentro em breve, outros quatro colaboradores. É para estes novos funcionários que José Vieira apela à Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC) e à delegada de Saúde para que realizem testes à covid-19 antes de entrarem ao serviço.
O edifício foi, também, desinfectado exteriormente pela União de Freguesias de São Martinho do Bispo e Ribeira de Frades e a Provedoria, desde logo, adquiriu todos os materiais de protecção individuais necessários, bem como gel desinfectante. Algum deste equipamento e produtos têm sido cedidos, quer pelo Instituto Pedro Nunes (IPN) de Coimbra, com viseiras, quer pela farmacêutica Bluepharma. “Temos sentido, de quem nos rodeia, um carinho tremendo”, frisou o responsável.
“Felizmente, temos conseguido manter os utentes sem casos positivos”, notou José Vieira, garantindo que todos os procedimentos “têm sido cumpridos”, mas admitindo que não estão “livres de, involuntariamente, qualquer trabalhador poder trazer o vírus para o interior da instituição”.
O provedor afirmou, ainda, estar disponível para que possam ser realizados testes de diagnóstico à covid-19 quer nos utentes como nos colaboradores, mas tal ainda não foi necessário nem proposto à Santa Casa de Coimbra.