A maioria das 24 corporações de bombeiros dos 17 municípios do distrito de Coimbra, 21 de voluntários e três de sapadores, está 100 por cento operacional, mas estimam perda de receitas até 70 por cento, devido à redução do serviço de transporte de doentes.
Apesar de existirem oito casos de bombeiros infectados pelo novo coronavírus, segundo revelou a Federação dos Bombeiros do Distrito de Coimbra à agência Lusa.
De acordo com dados revelados por Fernando Carvalho, presidente da Federação, ontem (16), estavam ao serviço no distrito um total de 1 780 bombeiros dos quadros de comando e corpo activo, 488 dos quais profissionais e 1 292 voluntários.
“Nas 24 corporações, 14 continuam a laborar a 100 por cento, nove entre os 75 por cento e os 100 por cento e uma entre os 50 por cento e os 75 por cento. Há 29 bombeiros que não estão ao serviço, 21 voluntários, seis profissionais e dois de equipas de intervenção permanente”, disse Fernando Carvalho.
Nestes 29 casos, o dirigente adiantou que há oito bombeiros infectados pelo novo coronavírus que estão em isolamento profilático, número que classificou de “residual”, outros em quarentena e alguns fora de serviço por assistência a filhos menores.
Sobre os meios à disposição das corporações face à pandemia de covid-19, embora assumindo que a situação “não é a ideal”, Fernando Carvalho assinalou que tem havido “um esforço muito significativo” da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil e das próprias associações humanitárias em dotar os corpos de bombeiros com materiais de protecção.
“Inicialmente, como em todo o lado, no início desta situação, não estávamos minimamente preparados, mas tem havido um esforço para existirem cada vez mais equipamentos. Já foram feitas entregas de material e para a semana esperamos mais uma”, declarou.
Entre o material já entregue aos 24 corpos de bombeiros de Coimbra contam-se, segundo Fernando Carvalho, um total de 5 290 máscaras de protecção de vários tipos, aventais, óculos, luvas e outros equipamentos.
Também a Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra (CIM-RC), que representa os 17 municípios do distrito, para além da Mealhada (Aveiro) e Mortágua (Viseu), fez chegar às 27 corporações da sua área territorial cerca de 300 litros de produtos desinfectantes, “o que dá cerca de 10 litros por corpo de bombeiros”, frisou o presidente federativo.
As 21 corporações de bombeiros voluntários do distrito de Coimbra estimam uma quebra de receitas até 70 por cento, devido à redução de serviços de transporte de doentes por causa da pandemia da covid-19.
“Teremos uma quebra de receita superior a 60 por cento, entre os 60 e os 70 por cento. Antes [da pandemia de covid-19], fazíamos transportes [de utentes] para consultas, fisioterapia, análises e, agora, pura e simplesmente, isso está tudo parado”, notou Fernando Carvalho.
O dirigente declarou que se mantém o transporte para tratamentos urgentes, como os oncológicos e hemodiálise, mas a falta de receita “é transversal” a todas as corporações de voluntários do distrito de Coimbra, dependendo o valor absoluto da dimensão dos respectivos corpos de bombeiros.
Em Serpins, concelho da Lousã, associação à qual preside, Fernando Carvalho estimou que a quebra de receitas ronde os 60 por cento. Já na Figueira da Foz, os bombeiros voluntários apontam uma quebra de receita “da ordem dos 70 por cento”, confirmou, à agência Lusa, Lídio Lopes, presidente da associação humanitária local (AHBVFF).
“Face à ausência de consultas externas e tratamentos não urgentes, são menos 10 000 euros mensais”, precisou o dirigente.
Lídio Lopes corroborou que se mantêm os transportes de doentes “para tratamentos que não podem esperar” e afirmou que a AHBVFF espera das autoridades “indicações para a retoma” daqueles serviços, tendo, nesta fase, adiado alguns investimentos “que estavam pensados e planeados, mas que não são urgentes”.
Fernando Carvalho frisou, por outro lado, que os próximos meses “serão determinantes” para avaliar as necessidades de apoio financeiro aos bombeiros voluntários por parte do Estado, já que a quebra de receitas em Março e Abril “vai-se reflectir em Maio e Junho”, em cima do início do dispositivo de combate a incêndios florestais.
O presidente da Federação de Bombeiros de Coimbra lembrou, ainda, que ao longo de 2019 aquela entidade conseguiu fazer “uma recuperação significativa em recebimentos” de facturas em atraso que as corporações possuíam, por exemplo, com o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).
“Havia corpos de bombeiros que tinham com os hospitais universitários 20 meses de facturas em atraso. No final de 2019, chegámos a praticamente três meses de atraso e quero deixar aqui um elogio ao CHUC por este trabalho conjunto”, observou.
“Se o pagamento desses três meses de atraso não se mantiver, facilmente haverá corporações que vão entrar em situação de rotura financeira. E se não houver apoios, essa crise vai acentuar-se em Maio e Junho, vamos precisar de algum apoio para ultrapassar essas dificuldades”, reafirmou Fernando Carvalho.
Questionado sobre os montantes de apoio necessários, o dirigente federativo remeteu essa avaliação “para um período mais próximo da normalidade” do país, actualmente em estado de emergência devido ao novo coronavírus.
Por outro lado, Fernando Carvalho notou que os bombeiros têm vindo a reclamar ao Governo e Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil o pagamento de algumas despesas ainda por liquidar “inerentes aos incêndios rurais”, nomeadamente relativas a combustíveis e reparação de viaturas.
“Ainda haverá por pagar despesas de 2019, pode não ser muito relevante, mas há”, sustentou.