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Investigadores da UC defendem que desigualdades na educação podem aumentar

15 de Abril 2020

Um grupo de investigadores da Universidade de Coimbra (UC) alerta para os aspectos que devem ser acautelados para as desigualdades na educação não serem reforçadas com as aulas à distância, devido à pandemia da covid-19.

Partindo de uma análise ao roteiro para guiar a resposta educacional à pandemia, de Fernando Reimers e Andreas Schleicher, Ana Maria Seixas, António Gomes Ferreira e Isabel Festas defendem que “é fundamental perceber que a actual situação pode potenciar ainda mais as desigualdades já existentes no ensino básico e secundário”.

“Amplamente reconhecidas na realidade prévia à covid, as desigualdades em educação podem ver-se muito aumentadas com o actual afastamento físico e social dos alunos da escola”, advertem, citados pela UC, os três investigadores da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade Coimbra (FPCEUC).

“Não apenas pela eventual ausência de acesso a estes meios que pode ser grandemente ultrapassada com medidas” como o incremento de programas através da TV, mas, sublinham, pela “desmobilização e pelo abandono previsíveis numa população que, como é sabido, nunca terá o mesmo tipo de apoio familiar dos mais privilegiados”.

Neste contexto, destacam os especialistas da UC, são necessárias “medidas imediatas, de seguimento e apoio particular aos mais vulneráveis, mas, também, que se prevejam planos de acção num futuro a curto prazo, quando for possível o regresso às escolas”.

Esses planos devem “contemplar programas de compensação e de recuperação das aprendizagens perdidas ou pouco conseguidas”, sustentam Ana Maria Seixas, António Gomes Ferreira e Isabel Festas.

Trata-se de um empreendimento que, reconhecem, “vai exigir um enorme esforço”, mas “vale a pena investir para prevenir uma situação que pode ser catastrófica em termos de acentuação das desigualdades”.

A avaliação dos alunos que estão nestas situações, a elaboração dos programas e modalidades de compensação e de actuação, bem como recrutamento dos professores necessários são algumas das medidas defendidas por estes investigadores.

No que respeita ao recurso à educação à distância e às plataformas digitais, plenamente “justificado nesta situação de excepção”, os investigadores da FPCEUC consideram que “a relevância que lhes é dada não pode servir para pensar este momento como algo regenerador do futuro”.

Admitindo que é necessário inovar em educação, “é muito importante perceber que qualquer renovação/inovação tem de ser equacionada em função de ambientes óptimos de aprendizagem e de socialização, necessariamente reportados a formas presenciais, as únicas que permitem a partilha, a cooperação entre professores, alunos e todos os intervenientes do processo educativo”, acrescentam.

“Pela sua natureza e missão, a educação escolar no ensino básico e secundário ocorre num espaço colectivo e formativo, em que a criação de comunidades de aprendizagem reais e não virtuais é uma condição para a consecução das suas finalidades”, advertem.

Neste sentido, “os meios digitais e a distância, podendo ser usados como recursos, não serão nunca substitutivos da presença em espaço escolar dos membros da comunidade educativa”.

Os três investigadores defendem ainda o papel crucial da Universidade “como espaço de criação do conhecimento indispensável à resolução de problemas”, como este com que o mundo se confronta.

É o desenvolvimento da investigação em diversas áreas científicas que “pode trazer as soluções necessárias à criação de vacinas e ao tratamento de doenças” e, por outro lado, “é o pensamento, tal como é desenvolvido nas áreas das ciências sociais e humanas que pode dar grelhas de leitura sobre o que se passa, bem como apontar os caminhos e as saídas a seguir e a adoptar”, concluem.