Amentar as almas, encomendar as almas ou obradório são sinónimos para uma mesma intenção: lembrar os nomes das almas encomendando-as a Deus.
A encomendação é realizada dentro de um signo-saimão, para o operador não ser tentado pelo diabo, concluindo a cerimónia com a exclamação: “Peço um Padre Nosso e uma Ave Maria por todas as almas em geral que estão nas penas do purgatório”, seguida da respectiva recitação em voz muito alta.
As épocas precisas da amentação acusam diferenças regionais como em Tondela: no lugar da Lageosa do Dão realiza-se na Quarta Feira de Cinzas, enquanto em Guardão a amenta das almas fazia-se durante toda a Quaresma, três dias na semana (terças, quintas e Sábados), pelas ruas da localidade.
A cerimónia pressupõe um ritual: nas noites de amentar das almas os participantes saem sozinhos de suas casa (mesmo quando membros de uma mesma família), dirigindo-se em silêncio para a porta principal da igreja, onde se formam grupos de homens e mulheres que nem mesmo aí se cumprimentam.
A partir da igreja partem a percorrer as ruas dos lugares, depois de fazerem o sinal da cruz e rezarem em coro:
Rezemos um Padre Nosso
E uma Ave Maria
Em louvor do Anjo da Guarda
Que vem na Nossa Companhia
Padre Nosso “saboroso”
Dos tristes e desconsolados
Ah! Meu Deus, ah! Meu Senhor!
Perdoai-me os vossos pecados.
A peregrinação compreende várias paragens, em determinados pontos da povoação, cantando-se o Bendito e entoando toadas tristes e muito arrastadas, devendo os participantes regressar à porta principal da igreja antes da meia noite.
(*) Historiador e investigador