Coimbra  24 de Março de 2025 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

Mais duas Repúblicas de Coimbra podem passar a ter interesse histórico

7 de Março 2020 Jornal Campeão: Mais duas Repúblicas de Coimbra podem passar a ter interesse histórico

As repúblicas Rosa Luxemburgo e Boa-Bay-Ela poderão ser as próximas a ver reconhecido o seu interesse histórico ou cultural, após votação do executivo da Câmara Municipal de Coimbra, que vai ter lugar na próxima segunda-feira (09). Também na reunião de Câmara da próxima semana vai ser votado e atribuído o mesmo reconhecimento histórico e cultural à Associação Real República do Bota-Abaixo.

Já no caso das repúblicas Rosa Luxemburgo e Boa-Bay-Ela, foram apresentadas as duas propostas ao Município para que sejam reconhecidas como entidades de interesse histórico e cultural ou social local.

As duas serão analisadas e igualmente votadas na reunião de segunda-feira e “a decisão será, posteriormente, submetida a um período de consulta pública, de 20 dias, para que, por fim, seja elaborado o relatório final e aprovado o reconhecimento”.

A Associação República Rosa Luxemburgo, antigamente conhecida por “Casa cor-de- rosa”, foi a primeira a ser constituída apenas por mulheres, quando estas estavam completamente excluídas deste contexto comunitário estudantil, e há registos de que acolheu pessoas de diferentes origens e participou em diversas actividades educativas e político-culturais desenvolvidas em conjunto com outras casas, além de realizar eventos próprios, como o “Mês Rosa”.

Está, portanto, comprovado a sua importância para a história local, assim como a sua identidade, já que a República se mantém nos dias de hoje, promovendo também eventos sobre temas e perspectivas feministas e assumindo um papel activamente crítico em relação às desigualdades de género. Estão, ainda, conferidos o património artístico e o acervo da Associação República Rosa Luxemburgo, bem como a sua existência como referência local.

Quanto à Associação Real República Boa-Bay-Ela foi fundada em 26 de Janeiro de 1956 e grande parte da sua história está documentada no livro comemorativo do seu 50.º aniversário, elaborado por ilustres gerações de residentes que, com a colaboração de algumas pessoas “amigas da casa”, reuniram um precioso conjunto de testemunhos de antigos residentes da república, desde a data da sua fundação até à primeira década do séc.XXI. O documento demonstra que a actividade da Real República Boa-Bay-Ela teve um forte significado para a história local, contribuindo para o enriquecimento do tecido social e cultural da cidade de Coimbra.

A presença dos cantautores Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira na Real República Boa-Bay-Ela era uma constante, tendo a casa inclusive servido de abrigo a Zeca Afonso, quando este se refugiava da PIDE.

A Real República Boa-Bay-Ela sempre recebeu inúmeras visitas e cerimónias, personalidades de referência nacional e internacional, com destaque também para as equipas desportivas, de várias modalidades, que lá eram recebidas quando vinham jogar contra a Académica de Coimbra. A república é ainda possuidora de património artístico e de um importante acervo, que validam também a sua importância como referência para a comunidade local, cumprindo todos os requisitos essenciais para vir a ser reconhecida como entidade de interesse histórico, cultural e social local.

No caso da Associação Real República do Bota-Abaixo, executivo municipal já tinha aprovado, na sua reunião de 09 de Dezembro de 2019, a intenção de candidatura da associação, “tendo a decisão sido submetida a um período de consulta pública de 20 dias”, findo o qual não deu entrada na Câmara Municipal qualquer sugestão ou participação pública sobre o processo e, como tal, a proposta passa, agora, pela concretização desse reconhecimento por parte do executivo municipal.

A Real República do Bota-Abaixo existe desde 1986, estando comprovada que a sua longevidade é superior a 25 anos. Da história da República, “salienta-se a sua participação em actividades de âmbito cultural e social, como a dinamização de sessões de cinema, concertos, espectáculos de dança e ‘workshops’”, revela a autarquia.

A Real República do Bota-Abaixo terá sido uma das primeiras a aceitar uma mulher, na década de 70.

Até ao momento, já foram reconhecidas 12 repúblicas de estudantes e estão em análise técnica ou a aguardar a entrega de documentos outras cinco, bem como cinco lojas históricas.