No passado dia 20 de Janeiro o ministro da Administração interna, Eduardo Cabrita, anunciava que Viseu teria um dos cinco centros regionais da protecção civil do país. Tal novidade, na prática, retirava de Coimbra uma importante estrutura de comando.
Seria de esperar que os poderes político-administrativos representativos da região reagissem a mais um acto de perda de influência. Alguém se insurgiu defendendo os interesses de Coimbra como capital natural e histórica da região Centro? Não! Antes pelo contrário, e como habitualmente tem sido a praxis norteadora de dependência e subserviência, sobreveio o silêncio e nada mais.
Vejamos com atenção o que disse o ministro a propósito desta mudança: «Viseu, pelas características de localização, pelas ligações que tem no âmbito da região Centro, pela proximidade a áreas em que se manifestam riscos significativos pela estrutura que já hoje temos de localização de um polo significativo de resposta aérea é o local adequado para a localização desse comando regional da região Centro» [vide edição online do Observador].
Esta justificação é anedótica do princípio ao fim. Serve para Viseu como serviria para Coimbra ou Lousã. É verdade que o distrito de Viseu tem alguns riscos que justificam a passagem do comando: deslizamento de vertentes, incêndios, vento e neve de vez em quando.
Porém, o distrito de Coimbra tem o dobro das razões/vulnerabilidades para se manter como centro regional. Embora não tenha neve, tem também deslizamento de vertentes e situações tempestuosas com ventos fortes bem como uma macha florestal densa com risco de incêndio. E, ao contrário de Viseu, corre o risco de cheias, agitação marítima e erosão costeira. Por outro lado, tem riscos tecnológicos muito significativos, como as indústrias de classe A (caso das celuloses), além de circularem pelas suas principais rodovias (IP3, IC2, A17, A13, A14), mercadorias perigosas – enquanto Viseu tem apenas como principal estrada a A25 – não esquecendo, também, que por Coimbra passa a principal linha de caminho-de-ferro nacional.
Se isto não exigiria dos poderes públicos regionais uma tomada de posição imediata poderemos ainda acrescentar, em defesa da manutenção da autoridade regional de protecção civil, o cenário de eventual catástrofe: em Coimbra está a ARS, o CRSS, e os HUC – importantes instituições regionais na área da saúde, fundamentais no socorro a feridos e no apoio a evacuados.
Coimbra, na sua lenta perda de influência, preferiu comer e calar, aceitando o desprezo e a desconsideração de quem nos governa. Seria assim tão difícil argumentar contra tão frágeis justificações de mudança?
O leitor que decida.
(*) Historiador e investigador