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Semanário no Papel - Diário Online

 

João Pinho

Somos todos Marega?

18 de Fevereiro 2020

Marega

Quando ao minuto 59.30 do jogo Guimarães – Porto, o avançado maliano marcou o golo decisivo nem o próprio suspeitaria da importância extraordinária dos momentos que se seguiram. Marega preparava-se para fazer história não só no futebol nacional, mas também a nível internacional, perpetuando o seu nome na galeria da fama.

Insultado na casa que o viu nascer para o futebol português, desde o pré-aquecimento, com evidentes cânticos racistas, que se foram propagando ao longo da partida pela claque mais extremista que por cá temos – a que posso juntar a Juve Leo ou os No Name Boys (sem ter a certeza evidente e legal se esta última sequer existe dado que o clube a tem protegido de todas as formas e feitios possíveis) – Marega reagiu de forma emocional gritando Basta! Foi humano, foi genuíno, foi corajoso e revelou uma personalidade invulgar!

A atitude de Marega, sem paralelo na história do futebol, de querer sair de campo após continuados insultos, representou muito mais do que uma simples birra, descontrolo emocional ou falta de profissionalismo – como alguns jornalistas submissos aos poderes e clubes da capital logo fizeram veicular, na radio, televisão e internet, animados pelo debate acesso que se propagou pelas redes sociais onde emerge, fervendo em pouca água, a clubite fanática e descontrolada.

Marega não era do SLB ou do SCP. Marega é o símbolo de um clube do Norte, da capital do regionalismo, do contrapoder e contrapoderes. E esse foi o maior problema: a comunicação social, na sua generalidade, só reagiu como seria de esperar num país livre, democrático e laico, depois de verificar que o assunto extravasara fronteiras e que estávamos perante um facto histórico incontrolável.

Aqueles que quiseram colocar o ónus no jogador, tiveram de enfiar a viola no saco. São, basicamente, os mesmos que insistem em fazer de Rui Pinto um criminoso atroz, quando estamos, na verdade, perante um jovem que embora cometendo erros, os procurou corrigir, colaborando com as instâncias jurídica internacionais, abrindo caminho para processos crimes que atingem, diretamente, as cúpulas perversas e meandros pantanosos dos corredores e bastidores do poder.

Em Portugal residem duas grandes figuras do nosso tempo, e é bom que não nos esqueçamos disso. Que os saibamos compreender, valorizar e apoiar, para que o mundo se torne um lugar mais honesto, menos corrupto, onde todos, independentemente da raça, nação, religião ou clube, devem ser respeitados e acarinhados.

Que o Futebol Clube do Porto saiba aproveitar este momento histórico da sua longa e rica história e perpetue, algures no estádio do Dragão, uma estátua de Marega como hino aos valores universais, da solidariedade, fraternidade, igualdade e união dos povos do mundo.

Nas veias de Marega, como nas minhas, o sangue que corre é vermelho. Serei sempre Marega. Somos todos Marega! E tu?

(*) Historiador e investigador