Eram habituais as multidões que acorriam ao Sport Club Conimbricense desde a sua fundação, a 03 de Fevereiro de 1910, fosse qual fosse a sede deste clube na “Baixa” da cidade. Afinal, por aquelas paragens (e ainda hoje), o desporto só existe graças ao Sport.
Actualmente, embora mais recatado, o clube não morreu, muito pelo contrário, celebra na próxima segunda-feira (03), os seus 110 anos, e quer continuar a trilhar este caminho de vivacidade ininterrupta, pelo menos, nos próximos 110.
Com altos e baixos, próprios de uma história já há muito centenária, o Sport Club Conimbricense tem a sua génese na “Baixa” de Coimbra, é ali que permanece e, se depender do seu presidente, Carlos Ferreira, é ali que irá ficar, independentemente de outras soluções que possam existir.
“O Sport foi fundado, essencialmente, por comerciantes da ‘Baixa’, pelo que se trata de um clube ainda hoje modesto e que vive com algumas dificuldades, em particular, pela zona onde está inserido”, afirma ao “Campeão, o presidente da Direcção, lembrando o primeiro presidente Esmael d´Almeida Chuvas.
Sem fundos de maneio consideráveis e sem grandes apoios, o Sport vai continuando a trilhar o seu caminho, passo a passo, modalidade a modalidade, atleta a atleta.
Neste momento, a sua sede, na rua de Simões de Castro, inclui um dos pavilhões desportivos mais antigos da cidade: o da Palmeira, inaugurado em 1966, uma “coqueluche na altura”, nota Carlos Ferreira. Ali, ainda hoje, se praticam as diversas modalidades: basquetebol, karaté, kick-boxing, jiu-jitsu, capoeira, natação e, mais recentemente, futsal.
Na próxima segunda-feira (03), o Sport junta na sua “casa”, atletas, treinadores, dirigentes, associados e amigos, num jantar comemorativo do seu 110.º aniversário.
A iniciativa vai decorrer a partir das 20h00, numa cerimónia onde serão homenageadas algumas personalidades relevantes na história do clube, desde atletas a associados.
“Todos os aniversários são importantes, mas este é um número redondo, de uma vida grande e que se quer maior ainda, que aqui esteja daqui a outros tantos”, refere Carlos Ferreira, lamentando que o associativismo já não seja o que era.
“Queremos voltar a trazer os jovens para o Sport e para a prática do desporto”, diz, formulando um dos seus desejos para este aniversário.
Com cerca de 300 atletas, sendo a maior fatia a do karaté, que tem praticantes desde os mais baixos escalões de formação até aos séniores, o Sport tem como grande objectivo “continuar a apostar na formação de atletas, para além de poder participar em competições”, explica ao “Campeão” o presidente do clube.
Outra das prioridades prende-se com a manutenção das actuais instalações, quer ao nível do pavimento do pavilhão (antigo e não adaptado às medidas de referência exigidas para a prática de certas modalidades), quer nos diversos espaços onde decorrem alguns treinos. De resto, em relação ao edifício, à cobertura e alguns trabalhos pontuais, o clube, por “carolice” de associados e amigos, tem conseguido fazer pequenas reparações.
Neste seguimento, salienta Carlos Ferreira, o grande desejo de toda a estrutura do clube é que “a Câmara Municipal cumpra o que promete há anos”. Ou seja, a cedência de um terreno, em Eiras, prometido muitas vezes “e até por vários Executivos”, mas que até agora não se concretizou.
“Esperamos que este seja o ano em que a promessa seja cumprida”, disse.
A ideia é poder construir um novo pavilhão, que se enquadre nas medidas obrigatórias para albergar treinos e competições de diversas modalidades, desde o basquetebol ao futsal.
Para além disso, e porque é necessário ir inovando e dando novas e melhores condições aos actuais atletas e a potenciais interessados, o Sport Club Conimbricense está a criar, junto à bancada do seu pavilhão, um novo ginásio, prevendo que o espaço esteja concluído até Março. Depois, ficam a faltar os equipamentos adequados, que terão de ir sendo adquiridos consoante as possibilidades.
É, aliás, pela boa gestão financeira que o clube se tem mantido sempre “à tona da água”. “O clube tem tido uma gestão equilibrada, sem dívidas. Faço questão de não dar um passo maior do que a perna, andando sempre devagar e consoante a disponibilidade”, explica Carlos Ferreira, presidente da Direcção do Sport há mais de uma década.
O alugueres que vão fazendo do pavilhão e a exploração do bar “1910”, com uma vista invejável sobre o campo do pavilhão, têm ajudado a equilibrar as contas. Quanto aos sócios, e estando agora a fazer uma actualização, constam perto de 500, contudo, pagantes (a um euro/mês) são apenas cerca de 100.
Com 110 anos de vida ininterrupta e tendo sido a casa de inúmeras modalidades, o Sport Club Conimbricense tem no seu museu medalhas e taças de atletas que se sagraram campeões nacionais, da Europa e até do Mundo.
Hoje, e com a constante aposta na formação (em particular no karaté), o Sport congratula-se de ver atletas a voar mais alto e a sonhar com os Jogos Olímpicos.
Embora a atractividade do Sport não seja como de outrora, Carlos Ferreira nota que “esta é considerada, desde há seis, sete anos, pela Federação e por outros entendidos, como a melhor escola de karaté do país”. Até ao Pavilhão da Palmeira vêm treinar, regularmente, muitos atletas de fora da cidade de Coimbra e até do distrito, exemplificando com um praticante que vinha de propósito do Porto.
Hoje, os nomes mais sonantes do Sport são os karatecas Constança Matos e David Reis, e do jiu-jitsu, André Ferreira e Patrícia Oliveira.
Feito sócio “ainda muito jovem”, José da Costa é hoje o n.º 1 do Sport Conimbricense. Um clube ao qual se entregou “por completo”, tendo percorrido todas as posições possíveis dentro da estrutura. Enquanto jovem foi atleta de basquetebol (nos juniores), passou para seccionista e treinador de hóquei em patins, tendo mais tarde ocupado todos os cargos nos órgãos sociais, desde presidente da Direcção a líder da Mesa da Assembleia Geral.
A ligação ao Sport Club está intimamente ligada há profissão que exerce há mais de 70 anos. “Aqui na ourivesaria respirava-se Sport, e apesar de a minha família ser toda unionista, eu fiz-me associado do clube, um dos primeiros da cidade de Coimbra e o que construiu o primeiro pavilhão desportivo”, recordou ao “Campeão”, José da Costa.
Garantindo a sua presença no jantar de aniversário, o sócio n.º 1 não esquece que foi, também, este clube que venceu o primeiro Campeonato Nacional de Basquetebol e que andou pela primeira divisão do Campeonato Nacional de Hóquei em Patins, sendo que na altura a equipa estava ao seu comando.
“As pessoas passam, o clube fica”, notou José da Costa, garantindo: “é um prazer ser hoje o associado n.º1, depois de me ter tornado sócio muito jovem”.