Os agricultores do Baixo Mondego consideram que o projecto do Governo, de 30 milhões de euros, para tornar o rio Mondego mais seguro poderá não ser eficaz, sendo um alerta para o eventual aumento do preço da água, algo que recusam.
Neste sentido, cerca de duas centenas de agricultores da região, lesados pelas cheias de Dezembro de 2019, reuniram em Montemor-o-Velho com dirigentes da Associação Distrital de Agricultores de Coimbra (ADACO), expressando incerteza sobre o plano governamental, anunciando para ser concretizado até 2023.
“Mais do que um plano, é um monte de incertezas. Os agricultores querem saber que diques, que obras, que manutenções se vão fazer mas ainda não há uma definição concreta de nada”, disse à agência Lusa Isménio Oliveira, coordenador da ADACO.
O responsável acrescentou, ainda, que independentemente do que o plano governamental venha a propor, os agricultores “não aceitam aumentos dos preços da água”.
Segundo dados da ADACO, actualmente os agricultores do Mondego, pagam cerca de 85 a 90 euros por hectare (valor que inclui a água das culturas de milho e arroz, que chega aos terrenos por gravidade e a manutenção do sistema de rega). Este valor é um “pouco superior” para quem recebe água por bombagem, nomeadamente na margem esquerda do rio.
Foram, também, abordados os prejuízos sofridos nas inundações de Dezembro, que a ADACO estima em quatro milhões de euros só no potencial produtivo, enquanto o montante disponibilizado para o restabelecimento daquele pelo ministério da Agricultura via Programa de Desenvolvimento Rural (PDR2020) se cifra em dois milhões de euros, números revelados na reunião.
Em discussão estiveram ainda outras situações relacionadas com as cheias de Dezembro, como a falta de um plano de emergência em ocasiões semelhantes, que junte às autoridades os beneficiários da obra hidroagrícola ou a falta de limpeza dos leitos de cheia do canal principal do Mondego “que estão cheios de árvores e nunca tiveram manutenção”.
“E depois ninguém sabe quem é que paga a manutenção das infraestruturas, se é a APA, se é a Navigator e os agricultores também querem saber porque é que mais de um mês depois nenhuma entidade com responsabilidades veio ter com eles, nem a APA, nem Câmaras Municipais, nem Proteção Civil”, sustentou o dirigente da ADACO.