Se fosse uma urbanização, ou uma indústria, não podia, mas como é um aeroporto já se pode. Estamos a falar do Montijo, para onde está apontado um investimento de 1,15 mil milhões de euros, acordado entre a ANA e o Estado, para a expansão da capacidade aeroportuária de Lisboa.
É obra para avançar, garantem, a pés juntos, apesar de nem todos os aviões lá poderem aterrar e também não ter capacidade de expansão.
O mais curioso é a Agência Portuguesa do Ambiente ter dado “luz verde”, com uma série enorme de mitigações constantes na Declaração de Impacto Ambiental, neste tempo em que as alterações climáticas estão cada vez mais na ordem do dia e apela-se a um estado de emergência para salvar a Terra,
Será necessário colocar um aeroporto numa área que tem uma fauna com 260 espécies, das quais 45 aves apresentam estatuto de protecção? E numa zona que tem a mais importante das massas de água subterrânea de Portugal Continental (unidade hidrogeológica Bacia Tejo-Sado)?
Tem alguma lógica construir um aeroporto numa área com 15 habitats naturais, com nove a serem directamente afectados e três pela construção do novo acesso?
Para 2022, ano de abertura, prevê-se no Aeroporto do Montijo uma capacidade de 7,8 milhões de passageiros e 46 000 movimentos de aeronaves, com 11 a 12 por cento das 94 000 pessoas que residem na área a sofrerem de “elevada incomodidade”, mais 17 por cento de “incomodidade” e de três por cento de “elevadas perturbações do sono”.
Bem pode o secretário-geral da ONU, António Guterres, declarar que “o ambiente enfrenta perigos sem precedentes, causados pela actividade humana”. Falta o simples bom senso, porque o discurso é um e a prática é outra.