Foi no domingo passado que passei… à porta do Teatro Nacional, no Rossio, um dos locais mais emblemáticos e nobres da capital do nosso país.
Sem receio de chamar os bois pelos nomes, designo por vergonha nacional o “espectáculo teatral em exibição… o acampamento permanente de um esquadrão de gente sem-abrigo e de toda a casta de pedintes.
Sem querer, não pude deixar de meditar na saga do “sem-abrigo” Camões, até pelo contraste entre a “peça” actualmente em curso e a notoriedade recente deste espaço, resultante da atribuição do Prémio Pessoa e a que a arte teatral está associada.
Sem querer, não pude também deixar de comentar quão amarga é mais esta evidência da pilhagem dos nossos impostos, por uma classe dirigente sem rosto nem alma, insaciável e insustentável. Erário tão “bem administrado” que, só em Lisboa, há mais “tropa fandanga” a pôr fim à “praga” dos sem-abrigo, do que os efectivos desses “inimigos da sociedade” dispersos por todo o país. Fácil de concluir, bastaria desmobilizar essa legião de lambe-botas e pagar directamente aos sem-abrigo, para em três tempos se por fim a esta farsa e ainda se poupar uma pipa de massa.
Sem admiração, registei que esta “actividade económica” até já ganhou novos desenvolvimentos, com alguns dos “artistas de rua” a exibirem dísticos de elaborada execução técnica e a invocar as mais comoventes razões para os seus pedidos de auxílio: esta desgraça e mais aquela… afinal a demonstração pública do abandono a que estão votados pelos poderes públicos e do falhanço do SNS e da SS.
Já a pagar impostos de sobra, e ajudando várias ONG e não só, resolvi neste início de 2020 abrir uma excepção e contribuir para aquele peditório. Desta vez, fui tocado por um cartaz mais criativo onde o “proprietário da exploração” confessava: O dinheiro é para os meus vícios. Enquanto no chão, bem assinalados, expunha cinco “postos de recolha”. Cito de memória: para a cerveja, para o vinho, para o tabaco, para a passa e para o sexo.
Coração de manteiga, não pude deixar de ajudar este “visionário” que, muito à frente do seu tempo, arrasa a própria Constituição da República Portuguesa. Pois não é verdade que a nossa lei fundamental apenas reconhece o direito a um vício… o da extorsão dos dinheiros públicos por parte dos responsáveis pelas Instituições?
E depois queixem-se que eu, em total despropósito neste início de 2020, tenha associado esta “comédia humana” a um tal “Botas” que, ao menos, sempre assumia que “beber vinho é dar de comer a um milhão de portugueses”.
Adivinhem lá em qual dos “contentores” investi umas moedazitas…