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UC desenvolve programa para melhoria do bem-estar de estudantes-atletas

6 de Janeiro 2020 Jornal Campeão: UC desenvolve programa para melhoria do bem-estar de estudantes-atletas

Carlos Gonçalves, docente e investigador da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra (FCDEF-UC) 

 

O projecto europeu “EMPATIA” – acrónimo de Education Model for Parents of Athletes in Academics -, no qual a Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra (FCDEF-UC) está envolvida, desenvolveu um programa educacional para os pais e encarregados de educação de estudantes-atletas pré-universitários, tendo como objectivo “contribuir para a melhoria do seu bem-estar”.

Segundo o estudo levado a cabo pela FCDEF, “em Portugal, as práticas rígidas implementadas nas escolas do ensino básico e secundário podem constituir um obstáculo à prática desportiva de alta competição dos seus estudantes”.

Para desenvolver este programa educacional, cada país participante realizou um estudo junto de pais e encarregados de educação, “de modo a efectuar um diagnóstico da situação dos estudantes-atletas pré-universitários na Europa, isto é, identificar os entraves à prática desportiva e as medidas que podem ser adoptadas para melhor conciliar o estudo com o desporto de elite, promovendo o sucesso na relação família-estudo-desporto”, revela a UC, que contou com o apoio do Ginásio Clube Figueirense. No estudo participaram, então, 101 pais e encarregados de educação de atletas de várias modalidades desportivas de alta competição.

De um modo geral, “os pais relataram que o maior entrave à prática desportiva de elite é a própria escola, que não compreende as necessidades específicas dos estudantes-atletas”, adianta um dos investigadores da FCDEF, Carlos Gonçalves, sublinhando que “certas práticas escolares desvalorizam de alguma forma a participação de estudantes em programas de desporto de alta competição”.

Apesar de Portugal “ter uma legislação bastante avançada em comparação com os outros países participantes no projecto (Eslovénia, Irlanda e Itália), falha na sua aplicação efectiva. Portugal poderia ser um país modelo nesta matéria se a legislação passasse para uma prática social”, salienta.

Quando questionados sobre as medidas que consideravam cruciais para o desenvolvimento dos seus filhos e filhas como estudantes e como atletas de elite, “os pais referiram essencialmente a necessidade de informação, porque, muitas vezes, desconhecem os seus direitos”, afirma o também docente.

A UC nota que “a partir da informação coligida em cada um dos países envolvidos no estudo, foi possível avançar para a elaboração de um programa de formação e informação para pais e encarregados de educação de estudantes-atletas do ensino básico e secundário”.

“Estamos a trabalhar diferentes conteúdos que permitam auxiliar os pais a lidar melhor com as várias dimensões da questão, porque a prática desportiva é extremamente disruptiva para a vida familiar a vários níveis: para o casal, para os irmãos mais velhos ou mais novos que são afectados pela vida do atleta – horários de refeições, horários de treino, transportes, gastos financeiros, etc.”, exemplifica Carlos Gonçalves.

Fundamentalmente, acrescenta o investigador, este programa educacional “propõe uma abordagem holística para o desenvolvimento e bem-estar do estudante-atleta, integrando conteúdos que permitem conhecer os riscos psicossociais envolvidos na prática desportiva de elite e formas de os minorar. É um programa que ajudará os pais, mas também professores, treinadores e mesmo decisores políticos, a entender e a gerir de forma adequada a vida dos estudantes-atletas”.

O “EMPATIA” está em fase de conclusão e deverá começar a ser testado no próximo mês de Fevereiro com grupos de pais e encarregados de educação de Portugal, Eslovénia, Irlanda e Itália. Depois será traduzido para várias línguas, incluindo português, e disponibilizado gratuitamente numa plataforma online.

Estima-se que, actualmente, mais de 15 000 estudantes portugueses do ensino básico e secundário estejam envolvidos em programas de desporto de especialização visando a elite. Em média, estes estudantes-atletas despendem 30 horas por semana na prática desportiva.

Financiado pelo programa Erasmus+, o “EMPATIA tem como parceiros o Instituto Nacional do Desporto de França, o Comité Olímpico Nacional de Itália, a Associação Europeia do Desporto Universitário (EUSA) e o Ginásio Clube Figueirense (Figueira da Foz).